Poucas coisas na vida são mais interessantes do que observar. Faço isso com grande prazer. Sempre que possível com isenção de julgamento, que é a parte mais difícil. Quando não, procuro um olhar de complacência, tentando dizer a mim mesmo que desconheço as razões que motivaram tal comportamento. Seguindo esse raciocínio, comecei a analisar como a maioria dos pais com crianças pequenas os protegem em demasia. Menos o que envolve celulares e computadores, parece que neste campo pode tudo. Afinal, uma babá custa mais caro e o tempo dos adultos é precioso. Fato é que, em contrapartida a isso, vejo meninos e meninas muito limpinhos, engomadinhos. Parecem saídos de uma vitrine. A gente olha para eles e detecta certo medo. Não podem se sujar, pois as reprimendas virão. Então, ficam meio engessados, deixando que apenas seus dedos voem sobre os teclados que os distraem do mundo que mais importa: o das sensações. Acho isso bem perigoso, pois crescerão com menos defesas. Não só em termos físicos, mas também psicológicos. Afinal, é preciso expor-se, imiscuir-se, entregar-se. Assepsia em excesso lembra hospital. Parece ser deveras saudável refestelar-se na terra, rolar na grama, levar alguns tombos.
Opinião
Gilmar Marcílio: Muito limpinhos
Essa gurizada tão asseada está sendo privada de boas e educativas experiências
Gilmar Marcílio
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