As grandes revoluções comportamentais mudam radicalmente nossos hábitos. O público alvo costuma ser os jovens. Depois, aos poucos, pessoas com mais idade vão aderindo, mas sempre com certa desconfiança. Somos animais de costumes arraigados e rompê-los requer certa ousadia. A segurança está na repetição. Foi pensando nisso que fiz essa pergunta ao meu amigo Fábio Letti, geriatra que sabe ouvir com delicadeza os idosos que atende em seu consultório: qual é a queixa mais recorrente que ouve de seus pacientes? Sem hesitar um momento, respondeu: "A solidão, mas hoje com uma atenuante, a internet, que está ajudando consideravelmente a minimizar essa situação." Vejam só, esse instrumento tão vilipendiado, quando falamos na dificuldade de manter encontros reais, tornou-se um lenitivo para aqueles que já não dispõem mais de algumas vozes amadas para mitigar essa difícil etapa da vida. Como filhos nunca foram a garantia de uma velhice povoada, muitos se sentem injustamente esquecidos em suas casas ou nos asilos. Eufemisticamente chamados de casas de repouso, são, salvo alguns confortos gerados pela possibilidade de pagar altas mensalidades, ilhas distantes dos parentes. Se assim tiver que ser, que ao menos se possa encontrar algum substituto, mesmo que seja um simulacro, para a sensação de isolamento que se apodera de muitos. Pois parece que a tecnologia, neste caso, tornou-se um bálsamo.
Opinião
Gilmar Marcílio: A internet e os idosos
Sejam iPads, tablets ou smartphones as novas companhias para os esquecidos
Gilmar Marcílio
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