Eu gosto da ideia de esvaziamento. De deixar as coisas ocas, sem serem preenchidas. De atravessar os dias dizendo não a certos avanços, pois nada é absoluto, senão pelo olhar de quem assim o quer. Meu antídoto? Ler poesia. Mais, tentar viver poeticamente cada instante, na certeza de que tudo é derradeiro. Não me recuso a participar do mundo. Gosto das pessoas, de estar entre meus pares. Regozijo-me com a possibilidade de expandir o conhecimento. Reconheço a beleza do desafio, do confrontamento. Por outro lado, mais fácil é ficar quieto no meu canto, professando o inquestionável. Só que isso acaba por aleijar o caráter. A árdua tarefa a que somos convidados é a de encontrar o equilíbrio entre a exposição excessiva e a recusa em colher o que pertence ao humano. E talvez o caminho onde se pode espalhar essa semeadura seja o de olhar novamente o pequeno, o que viceja nas bordas e não costuma ser nominado. Mas isso deverá ser feito sem esforço sobressalente, como se fosse o nosso estado natural. E talvez seja mesmo e o tenhamos perdido em algum desvão do processo evolutivo.
Opinião
Gilmar Marcílio: Condenado a ser feliz
Cavo dentro de mim o azul que não encontro lá fora