Pensar sobre a morte passou a ser considerado algo próximo ao mau gosto. É uma realidade sobre a qual não nos interessa mais refletir. Sinal destes tempos que entronizam a ciência como um deus, a ser reverenciado. Pela minha proximidade com a filosofia habituei-me a ponderar sobre essa questão, central para muitos pensadores, sobretudo os antigos. Para o homem comum da época, habituado a esbarrar no perigo a toda hora, a vida, em sua individualidade, tinha uma dimensão quase nula. A crença na transcendência era capital, uma espécie de consolo a ganir diante da impotência de nobres e poderosos – os que mandavam no seu mundo. Mas eis que, na imersão dos nossos dias, vemos sendo jogado para debaixo do tapete até mesmo o medo que ela nos inspira, pois não nos permitimos mais considerar o óbvio: estamos todos condenados à extinção. A do corpo, pelo menos. No entanto, agimos como se fôssemos imortais.
Opinião
Gilmar Marcílio: Sem consciência
O ato de morrer não deveria vir carregado de tanto horror
Gilmar Marcílio
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