Longe de mim fazer julgamento. Entre os cinco tripulantes do submersível cujo objetivo era se aproximar dos destroços do Titanic no fundo do mar, na costa nordeste canadense, os perfis e interesses pessoais eram, obviamente, particulares. Cada um com sua motivação para descer cerca de quatro quilômetros mar abaixo em uma “casca de ovo”, o submersível que implodiu, na relação com a força e a pressão da água. “Um programão”, li alguém escrever a respeito.
Julgamento é algo que cabe à Justiça, e em âmbito institucional, quer dizer, do funcionamento das instituições para julgar, condenar ou absolver como prestação de contas à sociedade. Sobre escolhas e preferências pessoais, não cabem julgamentos. Simples assim. Um dos cinco tripulantes do OceanGate, o submersível, era Paul-Henri Nargeolet, um oceanógrafo francês especializado em arqueologia marítima. Topou ir a um cenário que lhe dizia respeito. Segundo sua filha, Sidoni Nargeolet, ele estava indo “ao lugar que mais ama”, em contato com esse universo que lhe era tão íntimo. Pronto. Ele foi atrás daquilo que amava, segundo o testemunho da filha, e é o que importa.
Falou-se em “turismo mórbido” para classificar esse interesse pelos destroços do Titanic no fundo do mar e o filão de mercado explorado pela OceanGate. Pode ter um pouco desse componente. Os demais integrantes da tripulação, além do diretor da empresa que organizava as viagens, eram multimilionários: o CEO de uma empresa de venda de jatos particulares, veterano de outras aventuras que incluem uma viagem ao espaço, e um paquistanês vice-presidente da Engro Corporation, fundada como empresa de fertilizantes e que opera uma ampla gama de negócios, este último acompanhado de seu filho de 19 anos. O motivo de estar lá, cada um sabia, e ponto final.
O perfil multimilionário da maioria dos tripulantes, que se interessaram pela empreitada ao preço individual de 250 mil dólares para ver o Titanic naufragado, sugere doses de extravagância e excentricidade. É até frequente uma busca por experiências na fronteira do insondável, que podem oferecer o carimbo da diferenciação do comum dos mortais, especialmente quando o dinheiro pode comprar. Se não cabe julgar quem envereda por essas possibilidades, pode-se pelo menos reforçar, recuperar e relembrar do valor e dos encantos da simplicidade, que pode estar ao alcance da mão, por exemplo, em um familiar passeio no parque, e não necessariamente numa viagem ao fundo do mar atrás dos escombros do Titanic.