Quis não o destino, mas a confluência das relações sociais, que uma sucessão de episódios de assédio contra mulheres se precipitasse em curto espaço de tempo. Sinal de que a realidade subterrânea, aquela sufocada entre muros e paredes, ou sequer sem essa preocupação, extravasa por todos os lados. Ou é trazida à tona. O politicamente correto é tantas vezes chatíssimo, mas necessário.
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Foram casos de acusação de violência física, ou de violência mesmo, que deixou sinais, casos de assédio sexual ou moral, separados por intervalos de dias ou até horas. Alcançou a companheira de um senador da República e uma figurinista da Rede Globo, no caso patrocinado pelo ator José Mayer. (Aqui, um parêntesis: confesso certa má vontade com camisetas, hashtags ou expressões de efeito, apesar de reconhecer a importância do poder de síntese para multiplicar a visibilidade de uma causa. Mas prefiro a prática cotidiana. Os holofotes sobre camisetas permitem espaço para aproveitadores e oportunistas de plantão.) Alcançou a sister Emilly (Aqui, outro parêntesis: nome até então desconhecido para muitos que têm repulsa a serem alcançados por qualquer cena do BBB e que fazem questão de alardear uma distância asséptica do programa, como se pudessem ser contaminados pela mediocridade geral. Não se trata de submeter a agenda pessoal ao BBB, está claro, mas também não é preciso desviar dele se não houve tempo de sair da frente da televisão. O BBB, com suas regras, é um laboratório de relações que, não raro, nos diz respeito.) E alcançou ainda a apresentadora do SBT Raquel Sheherazade. Pode-se discordar das opiniões de Sheherazade, mas não há como negar que ela foi alvo de assédio moral clássico do patrão Silvio Santos. Apesar de a própria Sheherazade não reconhecer o assédio.
Historicamente, esquecemos de algumas palavrinhas capazes de desarmar situações de assédio e violência, e cujo desprezo a elas cria o ambiente em que tudo acontece. A primeira é "respeito". Com respeito integral ao outro, situações de violência tendem a ser reduzidas praticamente a zero. A segunda é "humildade". Uma pequena dose, e ninguém se julgará maior e melhor, e Silvio diria o que disse a Sheherazade em uma conversa respeitosa só entre ambos. Por fim, "serenidade" para administrar conflitos. Serenidade que passou longe de Marcos, retirado do BBB, e também da sister Emilly. Alguns dirão que é simplificar demais, mas o desprezo a essas três palavras cria o ambiente, cria a cultura machista, segregadora, excludente, preconceituosa ou o que for, em que mulheres, mas não só as mulheres, deixam de ser pessoas, ou passam a ser pessoas menores, com direitos subalternos.
Quem sabe as praticamos no dia a dia?
Opinião
Ciro Fabres: palavrinhas
O desprezo a elas cria o ambiente, cria a cultura machista e excludente
Ciro Fabres
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