Um grupo empresarial que começou com o aluguel de uma sala e um telefone pretende terminar o ano com faturamento acima de R$ 15 bilhões. Para se ter uma ideia, é mais do que a receita líquida das maiores fabricantes automotivas de Caxias do Sul no ano passado. E os planos de expansão das Empresas SIM, fundadas pelos irmãos Neco e Deunir Argenta em 1985 em Flores da Cunha, não param por aí.
De um posto de combustível, aberto inicialmente para abastecer a frota de caminhões que transportavam açúcar, a companhia pretende fechar o ano com mais de 180 postos em operação.
Com as recentes aquisições no ano passado, incluindo a Charrua, projeta alcançar o número de mais de 500 revendas no sul do país. A grande novidade prevista para este ano é que a companhia deve entrar no segmento bancário. A previsão é de que o Banco Argenta seja autorizado a funcionar até o fim do ano.
Outra frente projetada para os próximos anos é que o grupo quer se posicionar como gigante no comércio digital. Iniciou, neste ano, com a venda de lubrificantes, mas a ideia é ter o mix completo das empresas também no meio virtual.
A seguir, confira entrevista com Neco Argenta, presidente das Empresas SIM:
Como a rede alcançou uma dimensão tão grande nos últimos anos?
Quando falamos que a nossa empresa é uma empresa que é jovem, é porque ela é comparada em idade com outras da Serra, que tem mais de 70 anos, por exemplo. Nós temos 37 anos. A gente pode dizer então, de certa forma, que somos uma empresa nova alcançando este faturamento. A nossa história começa com o aluguel de uma sala e um telefone no Centro de Flores da Cunha e boa parte do nosso tempo, no início, foi focado para a indústria vinícola e, depois, o açúcar e o transporte. No segmento de postos, nós entramos em 1993. O primeiro posto não foi nem para negócio, foi para atender a nossa demanda interna, porque nós tínhamos uma frota de caminhões bem importante na época. Depois vieram várias empresas, começando com as pequenas, mas o nosso grande salto foi em 2009, quando a abrimos mão de todos outros nossos negócios e focamos no segmento de postos. Aí nós ampliamos a rede e, em 2018, veio a questão da distribuidora. Começamos a posicionar nossa marca com a Sim. No início, a diversificação ajuda. Agora ela também ajuda. Mas, às vezes, quando tu precisa definir o teu business, o foco é muito importante para alavancar. Quando tu é pequeno, um negócio não dá certo, o outro pode ajudar. Com o tempo, é preciso focar em alguma coisa. E acho que essa estratégia nossa foi muito boa. O ano passado foi um ano de muitas conquistas. A gente fala que foi um ano de colocar num quadro, porque a gente foi tendo bons resultados, atingindo faturamento, teve a chegada da Querodiesel, da Sim Lubrificantes... E depois surgiu a Charrua. Fomos construindo o ecossistema Sim de vários segmentos que a gente atua. Em 2021, já estávamos bem consolidados, mas foi em 2022 o marco da expansão. Estamos muito bem divididos, cada empresa tem um executivo. Hoje nós temos oito empresas, temos um conselho consultivo que nos acompanha, e esse é o resumo da nossa caminhada.
Em que momento vocês perceberam que dava para perder as contas de novos postos por ano?
Foi a partir de 2010. Até então, tínhamos 27 postos. Mas tínhamos ainda transporte, açúcar, fábrica de balas e uma indústria de vinhos de mesa. Aí abrimos mão de todos os negócios e, entre 2012 e 2014, entramos com força no sul do Brasil.
Quando se tornaram a maior rede de postos do Brasil e quantas unidades administram hoje?
Foi ali por 2015. Hoje nós somos uma empresa varejista do combustível que opera postos de gasolina. Então, nós operamos a bandeira Sim, que é a nossa própria distribuidora; também operamos postos Charrua, Shell, Ipiranga e postos Vibra, que é a ex-BR Distribuidora, operamos todos... São 170 postos em operação. E temos um projeto de, até o final do ano que vem, estarmos operando 200 postos.
Lembro do período que destacavam com força que tinham mais de 100 postos no Sul do país, no início da década passada, ou seja, a meta significa dobrar este número. Como isso se reflete no faturamento com projeção de superar gigantes da Serra, como Marcopolo e Randon, por exemplo?
Se nós falarmos um pouco da Sim em números, nós praticamente dobramos a companhia em dois anos. Não teve nenhum ano na nossa história com esse salto de faturamento. Em 2021, já tivemos um grande incremento com a distribuidora, quando nós fizemos R$ 6 bilhões. E, no ano passado, nós chegamos a quase R$ 13 bilhões entre todas empresas Sim. Neste ano, nós devemos fazer R$ 15 a R$ 16 bilhões pelo que já construímos nesses primeiros quatro meses. Claro que o nosso business é de margens muito pequenas, é commoditie pura. Mas fizemos um ano muito importante e 2023 já está muito bem alinhado para o que estamos projetando.
Embora comente da margem do combustível, como a mais recente diversificação impacta no grupo?
Eu sempre falo que temos a nossa vaquinha de leite, que são os postos de combustíveis propriamente ditos. Para nós, é muito importante estarmos no varejo com a nossa rede Sim. Para ter uma noção, essa empresa hoje vende em torno de 75 milhões de litros por mês, no bico. Só de clientes B2B, são mais de 25 mil atendidos no varejo. Por muito tempo o açúcar foi nosso carro-chefe, depois veio o transporte e o posto que se transformou o principal negócio, em que atuamos no Rio Grande do Sul, Santa Catarina (SC) e Paraná (PR). Paralelo a isso, nós temos a Sim Distribuidora de Combustíveis que é uma das cinco maiores da região sul, que atende grandes consumidores e postos bandeira branca, que não tem contrato com nenhuma companhia. Ele compra do distribuidor que ele quiser. E outra parte nós vendemos para a própria rede Sim. Todos os postos, que são praticamente 60 com a bandeira Sim, são marca nossa. Todos com operação própria. Ela não nasceu para ser franqueada. O terceiro negócio é a Querodiesel que já é a maior TRR do Brasil com a consolidação da Charrua Diesel, Arco Diesel e tudo que veio. É uma proposta para vender para pequenos consumidores, transportadoras, casas com caldeira e para o agronegócio, seja ele pequeno ou grande. Nós temos hoje 25 mil clientes atendidos de forma pulverizada. É uma empresa que já tem 40 anos de história. A gente não estava neste segmento. Junto com a Querodiesel, a gente tinha o desejo de operar com lubrificantes. Ela tinha a distribuição exclusiva da Petronas no Rio Grande do Sul e, depois, compramos São Paulo. Hoje nós já somos o maior distribuidor da Petronas no Brasil, que é uma marca da Malásia que está entre as seis mais importantes do mundo. Nesse primeiro momento ela só tem a Petronas, mas nós vamos embarcar nela muita coisa de produtos automotivos, como filtros. Logo depois, surgiu a oportunidade da Charrua. Ela veio com uma proposta de ser distribuidora que franqueia a marca, que não é a proposta da Sim Distribuidora. São duas companhias, com mercados distintos. Quando adquirimos a Charrua, ela tinha 230 revendedores no Estado e um pouco em SC. Já estamos consolidando, nos próximos dois meses, o número de 300 postos. Temos um projeto para 2025, de chegar a 500 postos, incluindo também o PR. Se somar com a Sim, hoje, já estamos passando de 500 postos, fora as outras marcas. E, depois da Charrua, veio uma empresa que já nasceu no meio virtual, que é o primeiro e-commerce de produtos automotivos, como nós chamamos. Ela foi lançada agora, em março, em São Paulo. E, em junho, vai ser lançada aqui no Rio Grande do Sul. Ele nasce com produtos automotivos, agora com lubrificantes, mas até o final do ano já devemos ter tudo que possas imaginar para um automóvel. E para daqui dois ou três anos, imaginamos ter um e-commerce da Sim que venda tudo que se compra na Amazon, por exemplo. Será um outro negócio. Agora, por último iniciamos ainda a operação da SIM Aviação, negócio em que atuamos em parceria com a AirBP, divisão de aviação especializada da British Petroleum, com presença em mais de 600 aeroportos em 55 países. Começamos as atividades no aeroporto de Santa Genoveva, em Goiânia (GO), no Aeroporto Internacional Marechal Rondon, em Várzea Grande (MT), e no aeroporto de Foz do Iguaçu (PR). Avançaremos como revendedores e também parceiro de negócios nas regiões centro-oeste e sul do Brasil, com a visão de termos operações em 15 aeroportos até o final deste ano.
E como surgiu a ideia de entrar para o ramo financeiro?
Nasceu também, no ano passado, a A 27, que é uma startup, que hoje é uma fintech, um banco digital. Ela surge para ser o serviço financeiro das nossas companhias, porque nós financiamos muito nossos clientes, ajudamos com seus prazos. Ela nasce por uma necessidade, como foi com a SIM Rede de Postos, que nasceu para abastecer a frota da época. Mas já estamos estruturando para que, imaginamos até final do ano, sejamos homologados pelo Banco Central para ter o Banco Argenta. Porque toda a plataforma financeira precisa estar vinculada a um banco. Ele inicia consolidando e trabalhando com os nossos clientes. E depois vai ir além. Nós estamos aguardando também a autorização do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) da compra da Indústria Petroquímica do Sul (IPS). Ali nos apareceu uma oportunidade ESG. A gente tem nos nossos postos, quase na metade, energia solar na cobertura. E devemos ter a totalidade em mais um ano. Nós também temos uma usina lá em Candiota de gás butano, que processa o lixo de Pelotas. Nós somos sócios, assim como o Santander, e a gente produz em Candiota energia a partir do butano e larga na rede. A IPS vem para somar no nosso portfólio, também no aspecto ambiental, uma vez que tem por atividade a coleta do lubrificante usado, evitando o descarte inadequado, e posteriormente, realizando o reprocessamento deste material em nossa refinaria, transformando-o em óleo básico de alta qualidade que será utilizado para se tornar lubrificante novamente. Esta empresa é a única no Brasil que também conta com uma fábrica de lubrificantes no mesmo parque industrial. Nossos planos vão além dos lubrificantes e a ideia passa por ampliar a oferta de soluções ambientais com coletas e reprocessamento de outros materiais, como plásticos, embalagens e outros. Essa é a ideia que nós queremos ter na IPS. Ela é maior do que trabalhar só o lubrificante reutilizado.
E o futuro da companhia?
Eu sempre falo para o nosso time aqui que nós procuramos fazer algo diferente no meio dos iguais. O que a gente tenta fazer diferente? É estar mais próximo do cliente, ter uma boa oferta de loja, ter um produto de qualidade, treinar a nossa equipe para atender bem, ter um bom mix... Toda a nossa visão é para facilitar a vida das pessoas em movimento todos os dias, esse é o nosso propósito. Então, o que nós vendemos aqui no meio, não importa muito. Nós vendemos açúcar, balas, pirulitos e, agora, estamos vendendo combustível. Mas um terço da nossa venda já não é mais combustível, é loja de conveniência. Nossas lojas hoje vendem quatro, cinco vezes mais do que uma loja normal de outra bandeira, inclusive em relação as nossas que não têm a marca própria. Mas vamos melhorar muito mais. O cliente vai poder financiar o carro, no banco Argenta, por exemplo. O caminhoneiro que quiser abastecer e pagar em quatro meses poderá ter esse financiamento. Então, não estamos preocupados com qual produto, mas em como vai terminar o negócio. A nossa relação com o cliente é o que ele quiser comprar.
Vocês vão comprar mais empresas, vão ir além da região sul do Brasil?
Nosso foco é sermos uma empresa forte e regional. Já estamos em São Paulo com a Sim LubrificanteS e Distribuidora, mas 80% do nosso negócio pretende se consolidar nos três Estados do sul. Talvez entremos nos “dois Mato Grossos” que são Estados importantes. E, pontualmente, tem algum movimento em São Paulo, mas nós não temos um desejo de ser uma empresa nacional, sabe? Pelas diferenças de cada região, é um continente... Temos aquisições pontuais dentro de cada empresa nos nossos planos. Hoje, a gente não pretende abrir muito mais o leque do que nós já temos. Eu entendo que a nossa companhia, em 2025, deve estar faturando R$ em torno de 20 bilhões. Nossa ideia é entrar no varejo total, como é a Amazon. No momento, temos centro de distribuição para atender o que é lubrificante, mas teremos uma longa caminhada pela frente.
Como isso impacta a economia da Serra?
Até outro dia, nós éramos 10, depois 50, 100 pessoas e hoje estamos com aproximadamente 5 mil funcionários. Tem empresas que têm vocação para crescimento e diversificação. Mas quando se abre um pouco mais o leque, não pode se distrair. Uma vez as famílias conseguiam ter dez filhos. Hoje é muito mais difícil, mas é uma questão de gestão, de administração. Eu procuro estar em todas as unidades de negócios. Eu vivo esse negócio de perto. Um facilitador que nós temos aqui é que eu conheço o segmento. Essa separação de cada empresa, de ter um plano de negócios, um executivo, também ajuda muito. Nós temos aqui na sede um centro de custos, um centro administrativo, mas algumas áreas prestam serviço para todos. Eu não preciso ter várias contabilidades e financeiros, por exemplo. Então tem essa vantagens, é a magia que a gente faz para operar tantos negócios.