David Hunner, 32 anos, é o superintendente do Villagio Caxias. O paulista começou a atuar em Caxias do Sul há cerca de cinco anos como gerente de operações. Na Serra, formou família e se estabeleceu em definitivo, mesmo depois de assumir um cargo da Aliansce Sonae e a brMalls, que exigia viagens constantes.
No último ano, voltou a ficar baseado na cidade porque assumiu a superintendência do shopping que movimenta cerca de 400 mil pessoas por mês e prevê um faturamento de mais de R$ 40 milhões neste ano.
A seguir, ele comenta um pouco da sua história de vida marcada pela superação, desde a infância a partir de um acidente, até a guinada de sua carreira como engenheiro mecânico para executivo de shopping. Hunner detalha também o impacto da fusão das marcas que administram o shopping para novas operações, inclusive internacionais. Confira:
Quem é David Hunner?
Nascido no interior de São Paulo, em Jacareí, mas morei pouco tempo ali, porque em seguida nos mudamos para o litoral, em Mongaguá, próximo a Santos. Eu cresci lá e foi onde a minha vida mudou, quando eu sofri um acidente no Carnaval. Tinha um menino empinando pipa com cerol na esquina da minha casa. Eu estava na rua e passou um Fusquinha e a antena de rádio dele arrastou o carretel, que enrolou nas minhas pernas e foi cortando. A minha perna esquerda quase decepou, chegou no osso, cortou todos os tendões. Eu tinha oito anos. Foram três anos até eu voltar a andar e consegui retomar uma normalidade. Aí comecei a praticar natação até para voltar a ganhar força e músculos, pois a água ajuda bastante nesse tipo de reabilitação. Fui gostando e um técnico falou com minha mãe para fazer um teste em Santos. Me ofereceram uma bolsa de estudos e me mudei para lá. Na adolescência, a natação começou a não dar mais tão certo, porque a gente acaba vendo que não cresceu tanto quanto deveria, não tem porte físico, e resolvi fazer Senai, um curso de aprendizagem industrial em mecânica automotiva. Prestei prova na Universidade de Santa Cecília (Unisanta) para Engenharia Mecânica. Com a nota da prova, me ofereceram 85% de bolsa, mas eu não podia reprovar em nenhuma matéria. Me formei em cinco anos.
Como você deu essa guinada da mecânica para o ramo de shoppings?
Estava em uma empresa que era concessionária da Scania, em que eu vendia peças. Um belo dia recebi um e-mail de uma recrutadora que também atendia a brMalls. Eu respondi que não tinha interesse na vaga, mas não deu uma hora e o recrutador me ligou e disse que tinha gostado do meu currículo e que a entrevista seria no dia seguinte. Acabei fazendo nove entrevistas. Na última delas, não sei por que motivo, Carlos Medeiros, fundador da brMalls, estava lá e pediu para entrevistar os candidatos ao estágio. Eu sentei na frente do CEO, que gostou de mim e me aprovou. Fui trabalhar no shopping Tamboré, mas eu morava em Santos. Usava ônibus fretado para ir e voltar todos os dias. Fui efetivado como analista de operações, cuidava de manutenção, obras, limpeza, segurança, toda a infraestrutura. Essa parte sempre teve a ver com a minha formação de Engenharia. Um dia disseram que precisaria morar em São Paulo, onde fiquei por quase cinco anos. Em 2014, resolvi estudar no Canadá e, quando eu voltei, me ofereceram para ser coordenador, com 23 anos, de outro shopping em bairro residencial que se formou ali no entorno de São Paulo. Esta foi a primeira oportunidade de liderança que eu tive. Fiquei um pouco mais de três anos naquele shopping. A gente teve vários bons momentos e ali tive de gerir uma das maiores crises, que foi um assalto, em que colocaram dinamite no caixa eletrônico do banco do shopping. Lembro que, quando cheguei, tinha policial ferido, gente na rua, bombas dentro do shopping... Com a evasão dos bandidos do empreendimento, eles entraram numa comunidade próxima e ainda fizeram uma família refém.
Como foi a mudança para Caxias do Sul?
Mudei para cá há cinco anos. Meu primeiro cargo foi de gerente de operações de shopping. Antes eu estava em uma coordenação regional. Cheguei com a minha mudança no carro, não conhecia a cidade, o empreendimento, não conhecia nada, só cheguei. E fui acolhido. Foi um início um pouco difícil, porque é uma cultura diferente do que eu estava acostumado. Mas as pessoas me mostraram muitas coisas da cidade e eu me surpreendi, com a variedade de paisagens, a fartura que se tem nos restaurantes... Nunca tinha morado fora de São Paulo. Foi a primeira experiência. E a qualidade de vida é muito boa. Tem o ar de um grande centro, com muitas coisas, mas tem uma tranquilidade de viver, de deslocamento, de entretenimento. Encontrei minha esposa aqui, a Karina Dick, que é arquiteta patrimonialista, e adora me contar histórias da cidade e eu adoro escutar. Quando cheguei aqui, a BR Malls não era a majoritária do empreendimento, ainda tínhamos a sociedade com o Iguatemi. Então passei por todo esse processo de mudança, inclusive de mix. Com o movimento de vendas que eles quiseram fazer, aproveitamos e nos tornamos majoritários no empreendimento em 2019, apesar de já administrar desde 2006. A gente conhecia bem o potencial e as principais fortalezas do empreendimento e isso fez com que a empresa comprasse a participação. E hoje a Aliansce Sonae e a brMalls detêm 71%.
Como foi retornar, mas aí como superintendente e no pós-pandemia?
Tem sido um desafio incrível. A gente começou muito bem o ano. O crescimento de vendas foi na casa de 20% em janeiro e em fevereiro. Temos expectativa de chegar aos R$ 600 milhões em vendas, crescimento de 18%. Vem performando bem e o empreendimento tem um histórico de mudar, a cada ano, algo próximo a 15%. Os contratos também vão vencendo e a gente vai reposicionando algumas marcas, fazendo algumas substituições até para manter o empreendimento atualizado. Estou sempre antenado com isso, além dos resultados. Outra coisa interessante sobre a fusão da Aliansce Sonae com a brMalls é que são 62 empreendimentos em 16 estados, 65 milhões de visitas mensais em todos os empreendimentos da companhia, 11 mil lojistas, e a maior plataforma de entretenimento e comércio da América do Sul. A gente espera que isso ajude a potencializar a nossa força comercial para trazer cada vez mais novidades e marcas importantes e inéditas à região.
Qual a ocupação média do shopping de Caxias?
Ele vai fazer 27 anos agora em novembro. São 155 espaços e hoje a gente está com quase 99% de ocupação. Não chegamos a 100% até porque precisa de espaço para trazer novidades. E os planos são sempre de longo prazo. Estamos falando de Outback, por exemplo, que deve ter inauguração agora em abril. E o namoro começou em 2008. Starbucks ,que deve ter inauguração no primeiro semestre e o namoro começou há três anos. Precisamos de médio e longo prazo para as coisas se concretizarem.
E vocês estão iniciando namoro com quem agora?
A gente deve potencializar o nosso mix de moda e o nosso protagonismo também na gastronomia. O plano estratégico do empreendimento busca marcas inéditas na região e também quer potencializar o lojista local. Uma das marcas que já temos confirmadas para se instalar é a Fuzuê Kid, que vai abrir conosco uma loja de moda infantil. Vamos ter também a Confidence Cambio. Vai abrir também a Localiza, para oferecer este serviço de comodidade, de aluguel de carros. Teremos a Democrata, que inaugura até o final do mês. A gente está trazendo, de forma inédita, a Carter’s. É a primeira loja deles na região. Virão com todas as linhas. Também a Havaianas vai abrir uma loja com mix completo. E teremos ainda a Havanna Café, em breve. A clínica da Madison é outra novidade, que hoje é o nosso salão de beleza do shopping. Para fortalecer esse serviço, temos como dados uma média de 400 mil pessoas visitando o shopping por mês pelo contador de fluxos. Na semana, gira em torno de 9 mil pessoas por dia e são 21 mil/dia no final de semana.
Qual é o faturamento previsto para este ano?
Neste ano, deve chegar a R$ 40 milhões de receita bruta. Também queremos apostar mais na venda online com o assistente de compras. Foi inaugurada esta operação em novembro de 2021 e segue com força. Até o mês passado, já tínhamos vendido R$ 2 milhões pelo canal. A gente entende que tem potencial de crescimento e que é uma comodidade. Não temos a missão de querer concorrer com um iFood, não é esse é o nosso foco, mas queremos ter essa proximidade em relacionamento. No aplicativo do shopping, hoje a gente tem 10 mil ativos que interagem, que têm engajamentos e que também é um canal importante, até para lançar, no futuro, programas de relacionamento para gerar benefícios.