Fabiana Zin, 46 anos, natural de Flores da Cunha, atua há 16 anos no Sebrae na região da Serra. Com formação em Psicologia pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) e pós-graduação em comportamento humano e organizacional pelo Instituto Brasileiro de Gestão Empresarial, atualmente ela é linha de frente de projetos da cadeia produtiva de moda e da área da saúde.
No próximo dia 20 de outubro, será lançada a segunda edição do projeto Feito na Serra Gaúcha, um selo que promove o design das marcas locais a partir do fortalecimento da identidade e da sustentabilidade. Neste ano, participam do projeto 16 empresas de Caxias do Sul, Flores das Cunha, Farroupilha, Garibaldi, Veranópolis e Gramado.
A seguir, Fabiana conta momentos marcantes de uma carreira marcada por fortalecer pequenos negócios de diferentes setores da região:
Quando se formou em Psicologia, pensou que poderia atuar no Sebrae com micro e pequenas empresas?
Sempre gostei muito de atuar em grupos, em empresas, e sempre me interessei muito pela parte de gestão. Eu entrei no Sebrae para coordenar o projeto Empreender e um dos pré-requisitos era a formação na área de trabalho com grupos porque trabalharia com uma série de empresas. Eu já tinha prestado serviços para o Sebrae antes desta vaga, mas me tornei efetiva cuidando de 80 grupos na época. Ali atuei três anos exclusivamente. Depois fui atendendo a outras demandas, circulando em muitos setores e hoje sou analista de gestão de projetos sênior.
Como conseguiu se especializar em diferentes setores?
Para a gente entrar nos setores tem de ter conhecimento específico do mercado, da dinâmica produtiva, do modelo de negócio... Eu atuei como gestora de projetos de panificação e alimentos, coordenei ações de empreendedorismo feminino e fui seguindo. Hoje, gerencio projetos da indústria da moda e do setor da saúde. Para isso, a gente tem de estudar, mas o principal conhecimento é entender a economia local. O papel do gestor do Sebrae é propor ações de impacto econômico na região. É encontrar alternativas sustentáveis para os pequenos negócios terem maior desempenho.
São necessárias habilidades de comunicação e relacionamento muito grandes. O principal pilar para ter bom desempenho em um órgão tão complexo como o Sebrae é saber fazer as conexões estratégicas para que a ação aconteça. É preciso um poder de articulação muito grande e estar em parceria com as entidades locais. Tem de conhecer os principais agentes de fomento ao desenvolvimento na região.
Como vê a participação das mulheres no empreendedorismo local, nas áreas que coordena atualmente?
É muito forte, principalmente na moda. O setor da confecção é predominantemente feminino, principalmente na produção. Mas, no passado, tinham muito mais pessoas em geral atuando nesta indústria, porque o processo produtivo era em maior escala. Hoje, o setor está mais enxuto. As indústrias estão terceirizando a mão de obra.
Que caminho o setor da moda está seguindo agora?
Há muitos ateliês de moda autoral crescendo exponencialmente, porque estamos em uma região onde há formação destes designers. Temos um potencial criativo muito grande na Serra. Novos empreendedores surgem no mercado, formalizando pequenas empresas com o sonho de ter uma marca própria. É onde estou atuando atualmente, com ateliês de moda autoral e pequenas empresas de design, que não são só de roupa, mas de outros produtos, como jóias, calçados, bolsas, acessórios e toda a parte de home decor.
Como surgiu o Feito na Serra Gaúcha?
É um projeto que foi viabilizado pelo Sebrae no ano passado, mas eu venho conversando com o polo da moda, com sindicatos, com universidades e conectando com pessoas que conhecem o setor há mais tempo. A aproximação com os especialistas Beth Venzon e Walter Rodrigues, que sempre tiveram iniciativas de projetos de identidade, foi embrionária para esta iniciativa.
Eu centralizei informações e criei o projeto como uma ação que a gente oferece às empresas, levando uma análise do setor, das necessidades emergentes para os negócios. Eu gerencio toda a parte financeira, capitaneio as empresas e convido consultores, como a Tatiane Alves, para desenvolveram a metodologia para atuar diretamente nas empresas. Eu coordeno o projeto e eles fazem a intervenção, emprestando o conhecimento técnico.
Quantas marcas participam do projeto?
No ano passado, foram 13 empresas da região. O pré-requisito é ter processo criativo. Esse ano, são 16 empresas, sendo que quatro estão repetindo o processo, porque o selo é uma marca importante para chancelar a qualidade, identidade e sustentabilidade das coleções das empresas que passam pelo projeto. Entre os pilares trabalhados está a contextualização regional, o desenvolvimento de produtos e a comunicação das marcas. O selo também contribui para todo o ecossistema do turismo da região. Não se fala mais de moda separada do comércio e do turismo, porque ela está conectada. O cliente consome experiências. Esse selo tem também esse objetivo de poder promover a Serra. E estas marcas podem ser reconhecidas em âmbito nacional. Quanto mais empresas aderirem ao projeto, mais vai reverberar no mercado.
E na área da saúde, o que observa de tendências?
É um setor extremamente complexo em que o grande desafio é identificar, entre as principais demandas do setor, o que o Sebrae pode fazer para micro e pequenas empresas. É o caso da conexão de empreendedores locais com hospitais na parte de suplementos e compras. É aproximar os pequenos negócios da região de grandes empresas. São ações que fomentam muito a economia local, porque um hospital tem milhares de itens de compra, e o papel do Sebrae é buscar essa aproximação.
Eu atendo mais a parte da cadeia produtiva. Mas também há perspectivas de projetos para clínicas e micro e pequenas empresas da área. Há ações em parceria com o núcleo de saúde da CIC Caxias. É um segmento econômico que está em expansão, e o profissional não tem tanto conhecimento em gestão. Ele até sabe atuar tecnicamente, prestando serviços, mas a parte em que o Sebrae entra é justamente no auxílio à administração, principalmente em clínicas estéticas, que são negócios que estão crescendo muito.