A história da pequena empreendedora de Veranópolis, Leonilse Maria Maschio Pagliosa, 57, anos, que inaugurou um pequeno mercadinho no início da década de 1980, para atender funcionários da extinta Alpargatas se repete mais de 30 anos depois. Depois de duas indústrias calçadistas encerrarem as atividades no mesmo pavilhão às margens da BR-470, ela e seus familiares que comandam o negócio refletem a expectativa de outros moradores da cidade pela retomada do protagonismo deste setor com anúncio da instalação de uma fábrica da Arezzo&CO no mesmo ponto que já abrigou marcas, como Alpargatas e Coopershoes.
O plano de investimento para os próximos cinco anos da Arezzo&CO preveem 17 milhões e produção que pode chegar a seis mil pares por dia, o que demandaria 600 contratações diretas e mais 320 contratações indiretas. A primeira fase, que tem início em novembro, já estima cerca de 280 funcionários.
A chegada de uma nova indústria calçadista em Veranópolis faz Nice, como é conhecida, voltar no tempo. Foi justamente as oportunidades de trabalho neste setor que proporcionaram que ela estudasse à noite enquanto trabalhava de dia na Alpargatas, mesma empresa onde a irmã e hoje também sócia, Genice Forralozzo, trabalhou. Embora não tenha conhecido o marido Tranquilo Pagliosa ali, porque ele chegou a trabalhar um mês na fábrica que emprega boa parte da cidade, Nice conheceu o esposo porque trabalhava no mesmo setor que a irmã dele. Foi ele quem teve a ideia de empreender. Ela só tomou a decisão de sair da indústria porque não estava conseguindo engravidar.
— Na época que eu entrei, chegavam a fazer 8 mil pares por dia. Comecei como costureira aprendiz, fui monitora, revisora e, em quatro anos, virei supervisora de 50 pessoas. Eu cuidada da qualidade, produção, férias, salários. Ainda teve uma greve enorme na época, era muita preocupação. No mesmo mês que pedi para sair, acho que engravidei — lembra.
"Construímos tudo em família"
O valor da rescisão foi investido nas compras do estoque para montar o mercado no porão da casa dos pais, onde residiam. A ideia era aproveitar a proximidade com a fábrica. Porém, o início foi difícil, porque a indústria era tão grande que tinha um mercado próprio dentro. Aos poucos, o mercadinho foi incrementando os produtos, integrandos alguns serviços, como o de fritar pastel na hora, vender carnes e produtos coloniais. Assim, o pequeno negócio foi prosperando, ao contrário das indústrias que fecharam.
Mesmo assim, a clientela permaneceu, e a receita do pequeno estabelecimento nas últimas três décadas permitiu à família auxiliar os próprios filhos a empreender:
— Construímos um prédio, abrimos uma loja de materiais de construção para nossos filhos e temos um sítio. Tudo em família — ressalta a fundadora.
Se no início, Nice começou atendendo sozinha e grávida, hoje ele conta com cinco trabalhadores. Além de um incremento de 15% a 20% de faturamento com a chegada da Arezzo&CO, a expectativa da empreendedora é de relembrar os velhos tempos:
— Nessa fábrica vai ter bastante gente que vai voltar, que eram nossos clientes antes. A gente vende ainda muita coisa no caderno para essas pessoas que a gente conhece. Todo mundo está empolgado. Não apenas nós, mas a cidade inteira!