Um projeto, maturado há mais de 10 anos, se tornou realidade neste mês, quando ficaram prontos os primeiros pernis de presunto cru fabricados na Serra. Normalmente, o produto costuma ser importado de países com tradição em curados, como Itália e Espanha. A comercialização da marca Gran Nero, com produtos fabricados no interior de Flores da Cunha, começou neste mês.
O negócio é comandado por um enólogo e um empresário do ramo de pet shop, ambos gaúchos. Edegar Scortegagna, conhecido pelo trabalho que desenvolve na elaboração dos vinhos da vinícola Luiz Argenta, apresentou o sonho que tinha, desde 2010, quando voltou de uma formação na Itália, ao então aluno no curso de sommelier, Elton Antunes. Os dois acabaram virando sócios e, em 2018, começaram a construir a planta fabril no Travessão Alfredo Chaves. A obra ficou pronta em maio do ano passado, quando também obtiveram o registro do Ministério da Agricultura para dar início aos trabalhos. Foi aí que os pernis foram colocados para a maturação de 12 meses, concluída agora e que permite colocar os primeiros produtos no mercado.
Antes disso, porém, foi preciso todo um trabalho de pesquisa para encontrar a espécie brasileira de suíno que mais promoveria a qualidade desejada para o produto. Em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) de Concórdia (SC), depois de seis anos de testes, se chegou ao cruzamento de três raças de porcos que originaram a matéria-prima utilizada pela Gran Nero. Os suínos vêm de Sananduva, no Norte do Estado, por meio de uma parceria com a Cooperativa Majestade.
— É que nem vinho. Se não tem uma uva boa, não se faz um bom vinho. Com o presunto, é a mesma coisa. Por isso trabalhamos tantos para desenvolver suínos com uma gordura maior e boa, o que passa por uma boa alimentação — explica Scortegagna.
Os sócios destacam que o produto usa técnicas ancestrais de fabricação, mas terá uma identidade única.
— Não é para ser comparado com Pata Negra, com Parma, queremos dar uma “cara brasileira” ao produto — acrescenta.
Os primeiros produtos chegam ao mercado em diferentes formatos. Há desde o pernil inteiro tradicional, ao desossado que costuma ser mais utilizado por empórios e restaurantes, a uma versão pequena de um quilo e embalagens já fatiadas de 80 gramas. Os preços variam de R$ 180 a R$ 220 o quilo.
Capacidade de produção será ampliada
Com investimentos de cerca de R$ 15 milhões para a montagem da fábrica, a Gran Nero tem capacidade anual de fabricação de 3,5 mil pernis. A partir da comercialização dos primeiros produtos, a empresa já destaca a necessidade de ampliação. Os primeiros investimentos serão na contratação de pessoal. Até aqui, três pessoas tinham sido contratadas. Mas, com as carnes maturadas, aumenta o serviço de processamento. Mais cinco pessoas estão em processo de seleção. Além dos oito empregos diretos, o mercado de trabalho também é movimentado pelos comerciantes da marca.
Hoje a fábrica não consegue ainda atender os pedidos de grandes redes de supermercados. Por isso, os sócios pretendem triplicar a capacidade de produção até 2022.