A jornalista Juliana Bevilaqua colabora com a colunista Babiana Mugnol, titular deste espaço
Talvez nunca a ciência tenha sido tão importante como em 2020, inclusive as Ciências Econômicas. A reflexão foi feita pelo economista André Nunes de Nunes durante a cerimônia de premiação do Conselho Regional de Economia (Corecon RS) na terça-feira (22). Economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado do RS (Fiergs) e coordenador do Comitê de Investimentos da Sociedade de Previdência Privada do RS (InduspreviRS), ele recebeu o título de economista do ano e lembrou que "existe ciência em muitas das recomendações que os economistas fazem".
— Muitas vezes os profissionais da nossa área foram pouco ouvidos ao longo do ano ou, quando ouvidos, mal interpretados. Quando questionados dos impactos e efetividade de muitas medidas empregadas no enfrentamento da pandemia, muitas vezes a nossa capacidade de análise, principalmente dos impactos intertemporais das políticas econômicas e sociais, foi vista como falta de compaixão, o que eu tendo a discordar veementemente, porque quem escolhe Ciências Econômicas geralmente tem um grande apreço pela humanidade e entende a importância dos indivíduos. A questão é que fomos treinados para pensarmos em termos de oportunidade, em termos de impactos intertemporais das nossas decisões — destacou.
Para o economista do ano, o olhar foi com reticência em relação às medidas de combate por causa dos resultados que trouxeram e ainda trarão. Pela primeira vez, desde 1990, o mundo não verá a pobreza extrema diminuir, o que tende a custar milhões de vidas, segundo Nunes.
— Cerca de 90% das economias entraram ou estiveram em recessão ao longo de 2020. O desemprego no mundo cresceu de forma drástica, serão no final do ano cerca de 240 milhões de desempregados por conta dessa pandemia e de medidas de combate a ela. A recessão global pode fazer com que 150 milhões de pessoas caiam na pobreza extrema, ou seja, vão viver com menos de 1,90 dólar por dia, isso representa cerca de 1,4% da população mundial.
2020, conforme Nunes repercutirá ainda por muito tempo e trará aprendizados. Será preciso aprender a lidar com as heranças e os desafios:
— Esse ano marca, talvez, o início de um mundo pós-pandemia que vai exigir muito de nós, economistas.