Você sabia que as placas tectônicas ficam nos limites das zonas de convergência e divergência? Sempre gostei de geografia. Acho que quase tudo pode ser explicado baseando-se na natureza. Somos seres que habitam essa crosta terrestre de nós mesmos.
Gentes de todos os tipos, vontades, sonhos, desejos, medos e amores. Segundo a antropologia é do homem o constante movimento. Desde os nossos antepassados bípedes andamos de lá para cá em busca de um novo ambiente, um novo amor, um novo desafio.
Gosto de pensar que na base de cada um de nós, existem placas tectônicas, que se movimentam muito lentamente, mas de modo constante. Alguns vão levar anos para sentir seu efeito, outros são plenos vulcões ambulantes. Esses movimentos alteram nosso relevo, modificam nossas paisagens internas e nos fazem florescer. Percebemos quanto o outro está se modificando, e não só por que o cabelo muda, ou emagrece, mas por que há um brilho transformador no olhar. Ninguém segura um tsunami.
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As ondas vêm num volume tão grande que deslocam todos do entorno. Geralmente a imagem que temos desses eventos são negativos, porque lembram destruição, mas não necessariamente. Às vezes precisamos começar do zero, é verdade, às vezes apenas sentir que as placas internas começaram a se movimentar e então ter consciência de que a vida dará uma nova guinada e é preciso estar seguro.
Dias atrás uma querida amiga lembrou de uma frase que eu costumava dizer, que são as águas tranquilas que movem o mundo. Parece um paradoxo para quem acaba de falar em tsunami. Mas é que as mudanças não precisam ser violentas.
Embora elas sempre irão afetar as pessoas que nos cercam, quase como um reverberar de uma gota caindo num rio. De repente aquele sujeito mais distante, conhecido ou desconhecido acaba recebendo o reflexo da sua mudança. Somos seres de contato.
Vivemos em espaços fronteiriços o tempo todo, numa fricção constante com a vida e as decisões do outro.Dar-se conta de que somos um grande organismo vivo e que cada um de nós é responsável pelo movimento coletivo nos dá a dimensão que temos. Não é no individualismo que construímos nossa identidade, mas no contato com o outro, apreendo as divergências e construindo para as convergências. Todos somos profundos e rasos, todos temos nossas placas tectônicas e elas estão se movimentando. Aceitar que a vida é uma inconstância nos faz mais adaptáveis e resilientes. E se uma grande onda te acertou, eu te desejo coragem.