Há pelo menos uma década, Passo Fundo possui foco de criminosos especializados no golpe ou conto do bilhete. Embora relatos do crime datem de mais de 35 anos, a célula de estelionatários, que começou pequena, ampliou-se por volta de 2016, quando uma série de indiciados por crimes mais graves, como tráfico e roubo de veículos, migrou para o golpe.
— Como o estelionato não tem violência, a pena é bem menor. E como os crimes patrimoniais eram fortemente combatidos no município, eles optaram pelo golpe, por ter apenamento baixo — afirma o delegado regional de Polícia de Passo Fundo, Adroaldo Schenkel.
De acordo com ele, Passo Fundo municia semanalmente autoridades de outros Estados com cadastro de passo-fundenses e as diligências são frequentes.
— O golpe é muito antigo e Passo Fundo foi um berço que, infelizmente, continua fazendo vítimas — diz.
Além da pena para o estelionato ser de apenas um a cinco anos de prisão, os processos relacionados ao crime tramitam com lentidão, o que, muitas vezes, leva à prescrição — assim, os criminosos permanecem em liberdade, repetindo o golpe.
Combate
O delegado titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), Diogo Ferreira, afirma que além de investigações e monitoramento constantes realizados pela Polícia Civil, estão em andamento ações penais:
— Nós combatemos o crime posterior ao golpe, que é a lavagem de dinheiro, pois os criminosos aplicam o golpe em outras cidades ou estados e vem lavar o dinheiro aqui em Passo Fundo.
O crime
O modo mais comum do golpe é aquele em que o estelionatário, aparentando uma pessoa pobre, aborda a vítima nas proximidades de bancos. O criminoso afirma possuir um bilhete premiado da Caixa Econômica Federal e pede auxílio para realizar a troca.
Em seguida, outro criminoso, com roupas sociais, se oferece para ajudar, reforçando a narrativa do golpista e telefonando ao banco. Na ligação, um terceiro estelionatário se apresenta como funcionário da Caixa e solicita os dados do primeiro golpista para a realização do saque.
O criminoso, ao se mostrar pouco instruído, afirma não possuir documentação e pede ajuda à vítima e ao comparsa para receber o prêmio. Como recompensa pela ajuda, ele oferece uma fatia do prêmio, mas exige uma quantia financeira como garantia.
Essa quantia é o lucro do golpe: a vítima se oferece para ajudar, na promessa de receber o prêmio, e é levada até uma agência bancária para sacar o dinheiro. Muitas vezes, a vítima percebe o golpe e tenta desistir, mas é ameaçada pela quadrilha.
Prevenção
Schenkel pontua que o foco dos golpistas são os idosos, por ser uma população prestativa e de boa-fé, o que ajuda a efetivar o crime. A recomendação é de que, nesse tipo de abordagem, a vítima se afaste e procure um estabelecimento próximo para acionar o disque-denúncia 190 ou 197.
Operação Pólis
Em 2018, a Polícia Civil realizou uma das maiores operações envolvendo os criminosos do conto do bilhete. A Operação Pólis, com foco em Passo Fundo, combateu o estelionato, lavagem de dinheiro e organização criminosa, com mais de 400 investigados e R$ 150 milhões em bens apreendidos e bloqueados.
Processos relacionada à operação correm até hoje, mas muitos criminosos voltaram a agir, principalmente fora do Rio Grande do Sul.