Por João Alfredo Braida, reitor da Universidade Federal da Fronteira Sul.
A Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) é uma instituição multicampi que está nas cidades de Cerro Largo, Erechim e Passo Fundo, no RS; Laranjeiras do Sul e Realeza, no PR; e Chapecó, em SC, onde também está a reitoria.
A UFFS completou 15 anos em 15 de setembro, data em que o presidente Luís Inácio Lula da Silva sancionou, em 2009, a lei federal nº 12.029 para sua criação.
Essa sanção materializou o sonho que mobilizou entidades e instituições da classe trabalhadora pela reivindicação de uma universidade federal na mesorregião Grande Fronteira do Mercosul, que inclui o noroeste do Rio Grande do Sul, oeste de Santa Catarina e sudoeste do Paraná.
O movimento se constituiu a partir de 2006, sob a liderança da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul (Fetraf-Sul), da Via Campesina e da Central Única dos Trabalhadores (CUT), articulando movimentos que já existiam anteriormente nessas três regiões.
A partir de 15 de setembro de 2009, sob a liderança do professor Dilvo Ristoff, o primeiro reitor, que atuou de outubro de 2009 a janeiro de 2011, e depois do professor Jaime Giolo, reitor de janeiro de 2011 a agosto de 2019, a UFFS passou a ser, literalmente, construída.
Nesse período, foram edificados 80 prédios com mais de 125 mil metros quadrados, centenas salas de aulas e laboratórios de diversas áreas, mobiliados e equipados para a realização de aulas, pesquisas e atividades de extensão.
Hoje são seis bibliotecas com mais de 34 mil títulos (mais de 130 mil exemplares) e outros 77,5 mil títulos em e-books. Além disso, a UFFS conta com 1.425 servidores públicos, sendo 706 docentes e 719 técnicos administrativos em educação, e 271 servidores terceirizados, que trabalham cotidianamente para a oferta de 54 cursos de graduação.
Há, ainda, 19 programas de pós-graduação stricto sensu (19 mestrados e quatro doutorados), 36 programas de residência médica e multiprofissional e cursos de especialização, aos quais estão vinculados 8.568 estudantes (7.056 de graduação, 613 de mestrado, 142 de doutorado, 377 de residência médica, 16 de residência multiprofissional e 364 de especialização).
Em 15 anos, a UFFS já expediu 7.521 diplomas de graduação, 1.236 títulos de mestre, 852 certificados de especialistas, 949 de residência médica e 18 de residência multiprofissional.
Esses números já seriam razões suficientes para comemorar e festejar muito esses 15 anos, mas a UFFS tem características que a tornam única entre as 69 universidades federais brasileiras.
Por conta de sua origem, a UFFS se entende uma universidade popular, que prioriza receber estudantes da classe trabalhadora, bem como produzir ciência e tecnologia voltadas a essa classe. Nesse sentido, a UFFS privilegia, em seus processos seletivos, os egressos da escola pública, que é onde estudam os filhos e filhas da classe trabalhadora.
Na UFFS, a reserva de vagas para esse público corresponde ao percentual de matrículas do ensino médio em escolas públicas, ou seja, uma cota de 86 a 88% das vagas, que é bem maior que os 50% adotados nas demais universidades, que usam a cota mínima prevista na Lei das Cotas.
Assim, mais de 90% dos estudantes da UFFS, mesmo nos cursos de alta demanda, como o de Medicina, são estudantes oriundos de escolas públicas. A UFFS mantém, ainda, programas específicos para ingresso de estudantes indígenas e para estudantes imigrantes e oferta cursos para estudantes dos assentamentos da reforma agrária.
Universidade em desenvolvimento
Nossa jovem UFFS é uma universidade em desenvolvimento, que requer ações para seu fortalecimento e consolidação, de modo a atender o anseio da comunidade regional, qual seja o de uma universidade que estabeleça relações éticas ao interagir criticamente com a comunidade regional.
Assim, percebe e estuda seus problemas reais e é orientada por um paradigma de pesquisa não alienada, consciente e comprometida com as demandas de conhecimento e tecnologias da classe trabalhadora.
O objetivo é que o ensino contribua para a autonomia e a consciência social, orientado por uma concepção de desenvolvimento como expansão das liberdades substantivas e combate às fontes de privação da liberdade, como a pobreza, a tirania, o negacionismo e o obscurantismo, a carência de oportunidades econômicas, a intolerância e os desrespeito aos direitos humanos e a discriminação de qualquer tipo.
Enfim, a UFFS entende-se como uma universidade que colabora para a construção de um mundo no qual a justiça, o conhecimento, as tecnologias, a arte, a cultura e o próprio planeta Terra estejam, de fato, disponíveis e acessíveis a todos e todas. Essa é a Universidade que queremos, essa é a UFFS que está em construção.
João Alfredo Braida é graduado em Agronomia, mestre e doutor em Ciência do Solo, e reitor da Universidade Federal da Fronteira Sul.