Por Téo Foresti Girardi, doutora em Design e Tecnologias pela UFRGS
As recentes enchentes no Rio Grande do Sul são causadas por uma combinação de fatores, incluindo mudanças climáticas, ocupação irregular do solo e gestão inadequada dos recursos hídricos. Tal calamidade destacou a necessidade urgente de adotar estratégias inovadoras para fortalecer a resiliência climática e reformular nossas políticas de desenvolvimento urbano e gestão ambiental.
A devastação causada por estes eventos sublinhou a vulnerabilidade das infraestruturas locais e a importância de uma abordagem integrada para enfrentar desafios ambientais, explorando através das iniciativas que estão acontecendo no estado como uma oportunidade de transformar a adversidade em oportunidade de crescimento sustentável.
As tecnologias inteligentes oferecem novas ferramentas para que as cidades possam tomar medidas preventivas, responder a emergências e planejar um crescimento sustentável a longo prazo. Com um ecossistema expressivo em tecnologia e inovação, é oportuno que o Estado se volte para este portfólio.
De acordo com o número de soluções cadastradas, centenas de soluções tecnológicas estão disponíveis atualmente e podem tornar os sistemas de infraestrutura, serviços e comunicação mais ágeis e robustos. Um exemplo do uso destas tecnologias poderia ser ao adicionar sensores de Internet das Coisas (IoT) à infraestrutura existente, permitindo a realização de manutenção preditiva, corrigindo problemas antes que se transformem em crises.
No contexto do Rio Grande do Sul, essa tecnologia pode ajudar a prevenir atrasos no trânsito, rupturas na rede de água e apagões, garantindo que os sistemas fundamentais continuem operando suavemente mesmo durante eventos climáticos extremos.
As tecnologias inteligentes também podem otimizar a utilização de recursos de forma consciente. Por exemplo, a tarifação dinâmica da eletricidade, que utiliza contadores sofisticados para monitorar o consumo e ajustar os preços de acordo com a demanda, pode incentivar a conservação de energia e reduzir a necessidade de aumentar a capacidade durante picos de uso. Aplicações similares podem ser adotadas para a gestão de água e resíduos, promovendo a sustentabilidade — soluções que já foram cadastradas em nosso banco de soluções.
A eficiência na resposta a emergências é crucial durante desastres naturais. Através de sistemas de tecnologia, isso pode melhorar significativamente os tempos de resposta, otimizando o envio de chamadas de emergência e sincronizando por exemplo informações para veículos de socorro.
Sistemas avançados de chamadas de emergência com capacidades de GPS melhoradas e segurança cibernética reforçada também podem facilitar a identificação de locais de emergência e melhorar a coordenação dos socorristas. Sistemas de alerta precoce são essenciais para fornecer ao público o máximo de aviso possível sobre desastres iminentes, permitindo a tomada de medidas preventivas ou evacuações.
A análise de grandes volumes de dados e o uso de ferramentas como o mapeamento geoespacial podem apoiar decisões mais inteligentes sobre a expansão de infraestruturas, ajudando as cidades a acomodar o crescimento de forma sustentável. Soluções inteligentes, mais rápidas e baratas de implementar do que projetos de capital tradicionais, permitem que as cidades se tornem mais reativas e adaptáveis.
O maior desafio a longo prazo são, sem dúvida, as mudanças climáticas, soluções de mobilidade inteligente, gestão de riscos, gestão efetiva de socorro entre outras necessidades diante de uma calamidade pública que necessitam de uma eficiência inteligente. Além disso, o uso de big data e análises preditivas permite mapear riscos de inundações e adaptar códigos de zoneamento e construções para mitigar esses riscos.
As enchentes no Rio Grande do Sul são um lembrete contundente da necessidade de ações eficazes e inovadoras para enfrentar os desafios climáticos. O projeto de reconstrução do estado do RS deve ser um exemplo inspirador de como diferentes regiões (capital e interior, urbana e rural) podem mobilizar soluções sustentáveis e inclusivas ao integrar tecnologias inteligentes. O Rio Grande do Sul tem a oportunidade de não apenas se recuperar das enchentes, mas também de se tornar um modelo de resiliência climática e inovação ambiental, preparado para absorver o crescimento futuro e resistir às intempéries que surgirem.
Téo Foresti Girardi é doutora em Design e Tecnologias pela UFRGS, fundadora e CEO do GovTech Lab.