Por Jocélio Cunha, presidente do Hospital de Clínicas de Carazinho
O Rio Grande do Sul vive a maior tragédia climática de sua história, com uma escala ainda mais devastadora que as enchentes de 1941. São quase 500 mil pessoas desabrigadas e mais de 100 mortes, além de quase 130 desaparecidos. Mais de 80% dos municípios gaúchos foram afetados diretamente com as enchentes, segundo a Defesa Civil do Estado.
O Rio Grande do Sul fica em uma região onde acontece o encontro entre sistemas polares e tropicais, o que faz do estado um berço para fenômenos climáticos extremos. O grande volume de chuvas intensas e por prolongado fez com que cenas jamais vistas ou imagináveis acabaram tristemente acontecendo em várias localidades do estado.
Cenas de adultos, idosos, crianças e animais se abrigando nos telhados dos imóveis aguardando serem resgatadas por voluntários, Bombeiros, Polícia Civil, Brigada Militar e integrantes da Defesa Civil rodaram o mundo e ganharam destaques nos mais importantes veículos de comunicação pelo mundo.
O desespero das pessoas em busca de abrigo e de voluntários tentando ajudar as autoridades publica nos resgates ficaram registrados na mente de todos nós. A cidade de Porto Alegre, também foi duramente atingida com a intensidade e volume das chuvas que protagonizaram os últimos dias e fizeram com que a rápida elevação dos níveis do Rio Guaíba atingisse dimensão histórica, causando grandes alagamentos jamais vistos na capital.
Corrente de solidariedade
A situação levou o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, a decretar estado de calamidade pública no RS por 180 dias. A tragédia climática tem mobilizado todo o país com doações e movimentações para resgatar famílias atingidas.
Com essa situação, surgiu uma verdadeira corrente de solidariedade em todo Brasil que está mobilizada para apoiar a população do Rio Grande do Sul atingida pelas enchentes, tudo para auxiliar a superar as consequências da maior tragédia da história do Estado.
Os prejuízos econômicos e humanos são incalculáveis no momento e, por isso, as pessoas resolveram se abraçar e ajudar nesta causa. São empresas, pessoas físicas, entidades, profissionais liberais e da área da saúde, além dos agentes públicos, fazendo o impossível para ajudar neste momento tão difícil nas vidas dos gaúchos. Estamos todos impactados com tudo que esta acontecendo do Rio Grande do Sul. A ajuda vem de todos os Estados do Brasil e até mesmo do exterior.
Perspectiva analítica e propositiva
Grandes volumes de chuvas e também secas prolongadas são a nova realidade do Brasil, preparar as cidades brasileiras para estes enfrentamentos é uma tarefa urgente que se impõe. Vivemos tempos extremos e há vários fatores que concorrem e convergem para esta crise humanitária e ambiental. Todos são altamente relevantes e merecem um olhar cuidadoso por parte das autoridades de todas as esferas de governo, dada a sua complexidade e interconexão.
É necessário olhar para essa tragédia sob uma perspectiva mais analítica e propositiva, especialmente depois das pessoas conseguirem retornar para suas casas, seus empregos, suas rotinas de vida e o trabalho da reconstrução começar, daí sim, termos a exata dimensão das perdas e dos estragos causados. Mas, desde já, é preciso trazer para o debate nas esferas municipais, estaduais e federais, verdadeiros projetos de mitigação de riscos e prevenção de novos desastres que por ventura venham a ocorrer.
Não se pode minimizar a dificuldade de planejamento, execução e de manter planos efetivos de prevenção e gerenciamento de riscos, ainda mais em um planeta que passa por mudanças climáticas cada vez mais aceleradas.
Jocélio Nissel Cunha é presidente do Hospital de Clínicas de Carazinho (HCC), vice-presidente da ACIC Carazinho e membro do Conselho Superior da Federasul.