O acidente na BR-158 em Condor, no noroeste gaúcho, ainda está fresco na memória das crianças, familiares e professores que viajavam no ônibus da prefeitura de Sarandi que bateu de frente em um caminhão na madrugada de segunda-feira (2).
Todos os 24 ocupantes do ônibus, em sua maioria atletas do time sub-11 do Esporte Clube Ipiranga de Sarandi, ficaram feridos. O condutor do caminhão, Leomar Barbosa Tolentino, 56 anos, morreu no local.
Os últimos internados, que tiveram alta no fim da tarde de segunda-feira, eram os professores Maikelly Caumo e Adelmo Pivoto, conhecido como Jacaré, além de Fabiana Castoldi Rech, mãe de um atleta.
Em entrevista a GZH Passo Fundo, Fabiana e Adelmo classificaram o acidente como um "filme de terror" e entendem que só não houve uma tragédia ainda maior por causa da interferência divina.
Apesar dos ferimentos, nenhum dos ocupantes do ônibus corre risco de morrer. Tolentino, que dirigia o caminhão, estava sozinho no veículo. As causas do acidente são investigadas.
"Foi tudo muito rápido", relata mãe que acompanhava filho
Fabiana Rech era uma das mães que acompanhavam o grupo na viagem a Santa Vitória do Palmar, no sul do Estado, onde a equipe disputou partidas do Campeonato Estadual Sub-11.
Ela se recupera de uma trombose venosa profunda na perna esquerda, causada pelo acidente. Já seu filho, Giovani, 11 anos, tem hematomas e arranhões no corpo, mas está bem apesar do susto.
A mulher estava com o filho no terceiro banco. Com a freada brusca do ônibus, ele e um amigo bateram a cabeça no assento da frente.
— Lembro da primeira freada do motorista do ônibus e dele puxando o veículo para o lado. Quando isso aconteceu, eu tirei o cinto e pulei para pegar os meninos, mas fiquei com a perna presa em um banco, causando minha lesão — contou.
Fabiana lembra, ainda, que o caminhão bateu no lado do motorista e a força da colisão fez com que o ônibus fosse parar em um barranco.
— Foi tudo muito rápido. Depois do acidente conferimos se todos estavam bem e rezamos para agradecer. Quando chegou o socorro, os que estavam menos feridos auxiliavam na retirada dos que estavam sangrando e das crianças — disse.
No resgate, ela lembra de um pastor que parou no local do acidente e fez uma oração pelos sobreviventes. Uma fala dele, porém, chamou sua atenção.
— Ele disse que viu mães ajoelhadas em casa rezando por nós. Na segunda de manhã, duas mães me visitaram no hospital e comentaram que pressentiram algo ruim acontecendo, se ajoelharam e rezaram para que tudo corresse bem na viagem. Então eu posso dizer que foi um livramento, uma salvação, foi a mão divina que nos salvou — disse Fabiana, emocionada.
“Noite de terror”
O professor Adelmo Pivoto, também conhecido como Jacaré, também teve alta e, em conversa por telefone, deu detalhes sobre a madrugada do acidente. Segundo ele, a viagem de ida foi calma e sem percalços, mas no retorno o grupo enfrentou um temporal com chuva e vento fortes.
— Perto de Panambi, o tempo parecia estar se acalmando, mas foi quando nos envolvemos no acidente. O que aconteceu após a colisão foi uma típica noite de terror — afirmou.
Nenhum dos passageiros tinha sinal no celular, o que dificultou a comunicação com órgãos de resgate. A sorte foi um motorista que passou pelo local e buscou ajuda com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e o Samu.
— Enquanto o resgate não chegava, tentamos acalmar as crianças porque todas estavam gritando, chorando e pedindo socorro. Foi uma cena muito triste — lembra o treinador.
Clube fará trabalho conjunto com psicóloga
Segundo o presidente do Esporte Clube Ipiranga, Ozeno Picollo, o time seguirá monitorando o estado de saúde dos envolvidos no acidente durante a semana. Na próxima semana o clube vai contratar uma psicóloga para trabalhar com os atletas e familiares.
— Nosso objetivo é fazer com que tudo volte ao normal, com as atividades voltando e as crianças seguindo em busca do sonho de ser atleta profissional — ressaltou o presidente.
Em nota, a assessoria do clube informou que todas as atividades previstas para essa semana nas escolinhas ou em jogos estão suspensas.
O clube tem mais de 300 atletas entre 6 e 15 anos, que participam de treinamentos no turno inverso à escola. Entre as atividades, as equipes viajam por todo o RS para disputar torneios de base.