Por trás do Natal que recebe milhares de pessoas há 16 anos no bairro do Boqueirão, em Passo Fundo, existem mãos que trabalham diariamente para reformar e construir os enfeites natalinos reciclados. A responsável por trazer a magia da data ao evento é a artesã Neri Teresinha Selvão, 61 anos.
Tudo começou quando Ruy Susin Selvão, 61 anos, marido de Neri, foi convidado para se tornar voluntário e pintar os artefatos produzidos com garrafas pet ainda no primeiro ano de criação do Natal Ecológico do Boqueirão Legal, mas foi somente no segundo ano do evento que Neri ingressou no grupo.
— Sempre gostei muito de fazer trabalhos manuais. Sempre fiz tudo aqui em casa. Decorações, roupas festivas para as minhas filhas e netas. Até as fantasias dos anjos que ficam lá na praça eu faço. Trabalho durante toda a semana e neste ano começamos ainda em janeiro, quando tiramos todos os enfeites da praça. É um processo longo de restauração e construção de novos enfeites — afirma.
Mesmo após a finalização da produção e organização dos artefatos na praça do bairro, Neri continua com a casa repleta de materiais. Tudo o que sobra tem o seu destino correto, seja para a produção de novas peças para o próximo ano ou a doação para catadores de rua.
— A gente tem uma preocupação muito grande com esses retalhos. As tampinhas, por exemplo, guardamos todas elas e doamos para associações que arrecadam esse tipo de material — disse.
Muitos voluntários e diferentes artesãos já passaram pelo processo de organização, recorte, pintura e montagem dos enfeites natalinos durante as últimas dezesseis edições. Atualmente, a artesã realiza esse trabalho sozinha na própria residência na Vila Dona Júlia.
A família também ajuda no processo quando pode. Enquanto os netos recortam o plástico das garrafas, o marido corta o arame usado para sustentar os artefatos.
— Quem estiver aqui por casa eu coloco trabalhar (risos), e olha que eu sou muito perfeccionista. Eu gosto de tudo bem feito — afirma Neri.
Reconhecimento que aquece o coração
Mesmo depois de tantos anos como responsável pela produção e reforma da decoração natalina da praça onde famílias, amigos e vizinhos se reúnem para passar tempo de qualidade juntos, o que ainda motiva Neri a continuar o trabalho é o reconhecimento do serviço por parte dos familiares e da comunidade passo-fundense.
A artesã relembra de todas as vezes que ouviu os netos falando com orgulho "Isso foi a minha avó que fez". Para ela, todos os comentários desacreditados de que toda a decoração é feita com materiais recicláveis vale cada segundo trabalhado.
Enquanto revê a gravação de um vídeo feito durante a chegada do Papai Noel na abertura do evento, ela se emociona quando percebe as famílias reunidas à espera do Bom Velhinho.
— Ver o quanto as pessoas admiram esse trabalho é gratificante. Ver os meus filhos e netos falando que fui eu que fiz tudo isso com orgulho me motiva sempre a continuar — conclui.
