Com a chegada da época de parição, animais silvestres sofrem com um problema que pode ser motivado por boas intenções, mas que prejudica a fauna e a sobrevivência dos bichos: a intervenção humana.
Em entrevista a GZH Passo Fundo, a responsável pelo Hospital Veterinário da Universidade de Passo Fundo (UPF), médica veterinária Michelli Westphal de Ataide, pontua que muitas pessoas cometem o erro de tentar resgatar um filhote silvestre ao encontrá-lo sozinho na natureza:
— Muitos pensam que o filhote está abandonado, acham que vão salvá-lo, mas as mães precisam comer e deixam o filhote abrigado enquanto buscam alimento. Muitas vezes, o ser humano pega na boa intenção, só que na verdade a mãe, quando volta, não o encontra mais — salienta.
O hospital recebeu recentemente filhotes de cervo, coruja e gato do mato. De acordo com Michelli, a retirada do animal do seu ecossistema sem necessidade acaba condenando-o a nunca mais poder retornar para a natureza.
— Cerca de 90% dos filhotes que recebemos não necessitariam estar no hospital. Muitas vezes, só tocá-lo pode ser prejudicial. Eles podem acabar rejeitados pela mãe, já que ficam com um cheiro diferente — explica a médica veterinária.
Os animais que de fato precisam de atendimento — machucados, em situação de risco — são minoria, segundo Micheli. Recentemente, por exemplo, a unidade tratou um cervo que tinha as patas fraturadas. Porém, os casos mais comuns são como os de um gato do mato que foi acolhido na última semana e estava desnutrido, fora do seu habitat.
De acordo com a médica, os casos de intervenção humana acontecem tanto no meio rural, quanto no perímetro urbano. Ela salienta por exemplo que passarinhos são colocados para fora do ninho pelos próprios pais, no intuito de aprender a voar, e acabam"resgatados" por seres humanos.
— A gente até brinca que roubam o filhote da mãe. Eu entendo as pessoas querendo ajudar, mas por desconhecimento do comportamento da espécie, acabam condenando-a. O ideal quando encontrar um filhote sozinho, é observá-lo por algum tempo, se por acaso os pais não voltam — conclui Micheli.
GZH Passo Fundo
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