Nesta semana, o fim da parceria entre a Sercesa e a sua patrocinadora master movimentou a cidade de Carazinho e o cenário do futsal gaúcho. A ruptura é fruto de um desgaste que se estendeu durante a temporada.
A Yeesco procurou a Sercesa para patrocinar o clube no fim de 2022. Em troca de um investimento aproximado de R$ 3 milhões no futsal do clube, a empresa (um site de venda de roupas) exigiu exclusividade e não poderia dividir a camisa com outras marcas. No Gauchão, o time atuava com o nome e as cores da patrocinadora. Já na Série Ouro e na Copa do Brasil, entrava em quadra com as cores da Sercesa.
A mudança de nomes em diferentes competições aconteceu porque a Sercesa optou por disputar todas as competições possíveis. Porém, para jogar o Gauchão foi preciso fazer uma manobra. O time havia sido rebaixado na temporada anterior, ainda sem o patrocínio e não poderia jogar na primeira divisão. Então, a Yeesco comprou a vaga da SASE, de Selbach, que disputava a primeira divisão. A partir daí, o time de Carazinho passou a jogar este campeonato com o nome e as cores da empresa.
De qualquer forma, o investimento deu resultado e a Sercesa conquistou três títulos em 2023. O principal deles o Estadual da Série Ouro. Foi campeã também da Taça Farroupilha e da Copa dos Campeões.
A reportagem de GZH ouviu representantes da empresa e o presidente da Sercesa. O CEO Esportivo da patrocinadora, Ruan Policeno, afirmou:
— O baixo engajamento da comunidade impactou na parceria. Os antigos torcedores foram contra o namming rights Yeesco Sercesa.
Policeno lembrou da rivalidade local entre dois times de futsal de Carazinho, que também contribuiu para o afastamento de torcedores.
— Começamos a jogar o Gauchão como Yeesco. A cor da empresa é preta. A logo da empresa é preto e branco. Os uniformes são coloridos, mas a maioria é preto. Mas aqui em Carazinho tem uma rivalidade entre Carazinho e Pinheiro, cuja cor é preta. É como se fosse um novo patrocinador do Inter colocar o uniforme do time de azul. O pessoal foi crítico com o nome e o uniforme e não apoiavam no ginásio — argumentou.
O presidente da Sercesa, Érico Martins, disse que se sentiu incomodado com as cores do uniforme, mas que relevou por conta da parceria.
— Ele (Ruan) alega que a cidade não acolheu muito. E é claro que não. Teve dia que colocava fardamento preto. É a cor do nosso maior rival, que é o Pinheiro. A Sercesa sempre foi vermelha e branco. Eu fui relevando, pois a gente não queria perder a parceria — revelou o dirigente, que emendou:
— Quando os jogos eram como Yeesco Futsal, a torcida quase não apoiava. A Sercesa tem 57 anos, não nasceu ontem. A cidade apoia bastante.
Ruan também enfatizou a falta de apoio das categorias de base nos jogos do time profissional.
— A gente tem quase 300 crianças nas categorias de base e projeto social. Se fosse apoiado pela própria base, o ginásio estaria sempre cheio. Se fosse 300 pessoas mais os pais, daria 600 a 900 pessoas no ginásio. Mas o ginásio não lotava.
Diante disso, a patrocinadora optou por seguir o projeto do futsal se separando da Sercesa. Portanto, em 2024, Carazinho, que tem uma população de 62 mil habitantes, passará a contar com três times de futsal: a Sercesa, o Pinheiro e a Yeesco.
— Agora, vamos seguir só com a Yeesco. Também me desliguei da Sercesa para ficar somente com a Yeesco em 2024. É ela quem banca tudo. Funcionários, atletas, comissão técnica, aluguel de ginásio, viagens – argumentou Ruan, que ainda revelou os valores de despesas da Sercesa até 2023:
— A Sercesa não tem condições de se manter. No ano passado a nossa folha foi de R$ 9 mil a R$ 11 mil. A nossa despesa mensal era de R$ 20 mil. Hoje, a gente gasta quase R$ 400 mil por mês.
Enquanto isso, a Sercesa, com compromissos firmados na Série Ouro, Taça Brasil e Copa Sul, se vê numa encruzilhada para o próximo ano. O presidente do clube lamentou o rumo tomado pela parceria e prevê dificuldades para a próxima temporada.
— Temos um projeto federal aprovado e vamos correr atrás. Temos três competições ano que vem e temos que sair do zero — disse Érico, que confirma que as categorias de base seguirão ativas, mas ainda não garante o time adulto.
— A base com certeza continua. O time adulto não te dou certeza. A gente vai ter que começar do zero. Vamos correr atrás de novos apoiadores. Quando esse apoiador veio, não aceitava nenhuma outra marca junto. Vamos ter dificuldade de chegar naqueles que ajudavam a gente e pedir de novo. Mas não tiro a possibilidade desses antigos, quererem criar algo mais forte. Certeza não posso te dar, pois já estamos em dezembro.
Para 2024, a Sercesa já tem aprovado um projeto na Lei de Incentivo ao Esporte no valor de R$ 1 milhão. O clube agora busca apoiadores para seguir em atividade.
Já a equipe que leva o nome da empresa seguirá investindo e no ano que vem irá participar do Gauchão, da Liga Gaúcha, da Copa RS, da FGFS, e da primeira edição do Campeonato Brasileiro.
A decisão impacta não só a Sercesa, mas também o cenário esportivo de Carazinho, já que o Pinheiro, outro time de futsal da região, disputa a Série C da Liga Gaúcha. A cidade se vê dividida diante das mudanças.
— A cidade está dividida. A gente acompanha pelas redes sociais. O pessoal da Camisa 6 da Sercesa disse que vai acompanhar a gente. Aqui tem dois times rivais. Hoje, a gente abraça uma parte da cidade. Saindo, vamos poder abraçar toda a comunidade. Engajar com Pinheiro e Sercesa. Vamos atingir um maior público — disse o CEO Esportivo da empresa.
— Vai repartir (a cidade). A Yeesco vai se dar melhor porque tem dinheiro. Patrocinador é forte. A empresa é boa e sólida. Eles têm condições. Mas para a cidade não é o ideal. Uma cidade pequena com três times competindo. Vai ficar ruim para nós e o Pinheiro. Pra eles não, pois tem o patrocínio — opinou o presidente da Sercesa.
Por fim, o dirigente da empresa mantém otimismo em unificar a cidade na próxima temporada.
— Vai dar muita reclamação, estou recebendo bastante mensagens. Mas vai passar e o projeto da Yeesco é ambicioso, é grande e ano que vem será maior ainda.