O artista Isaías Klein, 56 anos, tem uma relação diferente com as populares canetas esferográficas: além de usá-las no trabalho, como administrador, ele transformou esses materiais como ferramenta central para criar obras de arte vendidas em todo o Brasil e no exterior.
A paixão pelo desenho começou ainda criança, quando Klein reproduzia os traços de gibis. No decorrer da vida, passou a desenhar por prazer e fez as primeiras entregas profissionais quando produzia charges para jornais da região metropolitana no RS.
Natural de Guaíba, não demorou muito para que descobrisse que seu caminho era outro: o desenho realista feito com caneta. Klein lembra de ter visto alguém na televisão fazendo arte com caneta e passou a dar mais atenção para as esferográficas.
— Depois na internet eu acabei vendo outros desenhos, me apaixonei pela técnica e comecei a praticar. Aí é uma questão de gosto mesmo, eu gosto bastante do resultado, acho que fica diferente, dá uma plasticidade legal para as obras e acaba surpreendendo as pessoas — conta.
No começo, o desenho com caneta não passava de um hobby. Até que, em 2016, a Galeria RL Escritório de Arte, do Rio de Janeiro, viu as artes que ele divulgou no Instagram e pediu para comprar uma das peças. Até então, Klein não havia vendido nenhuma de suas artes — e o preço oferecido foi bem maior que o esperado.
A partir daí, começou a vender tanto para galerias quanto para pessoas, sob encomenda, tanto no Brasil quanto em outros países, enquanto concilia com seu trabalho como administrador.
"Caminho sem volta"
Hoje, 90% das obras feitas por Klein são encomendadas por outras pessoas. Ele já enviou suas obras para países como Estados Unidos e Canadá, além de diversos estados brasileiros. A maioria é de retratos. Atrás de cada peça está um tanto de musculatura e paciência, visto que cada desenho leva, em média, 20 horas até ficar pronto. O processo é lento e demanda cuidado: uma vez no papel, não há como apagar o traço da caneta.
— É preciso ter muita paciência. Se eu estiver fazendo uma etapa e não dar o tempo que aquilo precisa, se tentar acelerar o processo, é certeza que não dará certo —explica o artista.
No processo, ele usa as imagens enviadas pelos clientes e faz um fundo a lápis. Depois, usa a caneta esferográfica para criar camada por camada até chegar ao resultado final. A dedicação é ainda maior quando o objeto da peça é um rosto humano.
— O rosto é quase milimétrico. Se eu fizer o olho um pouco mais puxado, por exemplo, já descaracteriza a pessoa. Por isso dizemos que há muito do olhar do artista, mas ao desenhar rostos é essencial manter a essência da pessoa que está sendo retratada.
Quando não desenha pessoas da "vida real", Klein aposta em personagens da música, outra de suas paixões. No papel, ele já deu vida a John Lennon, Jimi Hendrix, Ben Harper e o brasileiro Belchior. Mas essas são exceções: o que ele mais gosta é ver a reação das pessoas ao entregá-las a obra.
— A cereja do bolo do que eu faço é que, invariavelmente, quando entrego os desenhos para as pessoas, é comum que se emocionem ao verem pessoas queridas ou a si mesmas. Isso é muito gratificante. Por isso eu pretendo continuar desenhando sempre: é um caminho sem volta — terminou.