Por Liliana Cardoso, secretária de Cultura e Economia Criativa de Porto Alegre
Quando as águas de maio invadiram palcos e plateias, se tornou necessário salvar vidas, embarcar nos pequenos botes, dividir solidariedade nos abrigos, resgatar animais de estimação e a dignidade de uma população em um cenário desolador. Falar em cenário, aliás, é muito oportuno, quando as águas serenaram. E arte?
Para muitos, esse não é o momento de falar em teatro, em música... Não é hora de gastar tempo e dinheiro para o fazer artístico. Mas a própria arte nos mostra o caminho da reconstrução. Os mesmos palcos que receberam nomes como Peter Brook, Pina Bausch, Philip Glass; que ouviram aplausos para apresentações do Teatro Oficina, do Grupo Galpão, agora se harmonizam, da plateia às coxias, com cenários, cenas e roteiros que olham para o futuro pela larga e escancarada porta da história.
Saem as atrações internacionais e entram homens e mulheres com as faces marcadas pela enchente, com as vozes embargadas pelas noites insones e os abraços multiplicados lado a lado na reconstrução de prédios, vidas e arte
História essa que se escreve neste 31º Porto Alegre Em Cena: não são simples trocas de rumos. Saem as atrações internacionais e entram homens e mulheres com as faces marcadas pela enchente, com as vozes embargadas pelas noites insones e os abraços multiplicados lado a lado na reconstrução de prédios, vidas e arte. E essa reconstrução não poderia ser diferente. Não poderia prescindir do talento, do esforço, da garra daqueles e daquelas que se reconhecem e se fortalecem no trabalho.
Sim! Vai ter Poa Em Cena. É tempo de gastar energia, de aplaudir, de rir e chorar com mais de 70 espetáculos protagonizados por profissionais que “até o mês passado” olhavam para o futuro com olhos de interrogação; que espiavam pela fresta da janela em busca de tempo bom... E esse bom tempo não veio com favores da administração pública, nem por bondades ou benesses, mas se consolidou pelo trabalho, pela confiança e pela determinação dos que não baixam a cabeça e sabem que a arte pode ser a primeira a parar e a última a voltar nas catástrofes, mas é, sempre, o combustível que nos move como sociedade.
Vida longa ao Porto Alegre Em Cena.