Por Gabriel Wainer, apresentador do @RivoNews
O encontro dos chefes de Estado do G20 começou ontem, no Rio de Janeiro, sob a expectativa de o presidente Lula de recolocar o Brasil numa posição de protagonista global, após as derrapadas históricas da diplomacia brasileira sob a tutela de Celso Amorim — que é muito mais ministro das Relações Exteriores do que o chanceler Mauro Vieira, titular oficial do cargo. A expectativa de Lula foi cumprida, não pela sagacidade do nosso Itamaraty, mas sim pelo deslumbramento da primeira-dama da República, Janja da Silva, que num arroubo incompatível com a sua posição, disparou um sonoro “fuck you” para o bilionário Elon Musk, que acaba de ser nomeado para trabalhar no governo de Donald Trump.
Para tudo, neste governo, vale a máxima da lacração: se não estão comigo, se não pensam como eu, só podem ser fascistas
Para além da cafonice provinciana do episódio e da irresponsabilidade diplomática, a fala de Janja escancara o que há de mais mofado nas crenças de uma esquerda que se recusa a se modernizar: um antiamericanismo torpe e um autoritarismo arrogante. E, com toda certeza, esse é um sentimento compartilhado pelo casal inquilino do Palácio da Alvorada. Afinal de contas, dias antes de Trump ser democraticamente eleito nos EUA, Lula disse, sem nenhuma necessidade, que a eleição do empresário seria equivalente ao “fascismo e ao nazismo voltando com outra cara”. Para tudo, neste governo, vale a máxima da lacração: se não estão comigo, se não pensam como eu, só podem ser fascistas.
E desta maneira, vão dançando à beira do precipício e trilhando o caminho que o próprio Elon Musk alertou, em resposta a Janja: vão perder o povo. Enquanto o resto do mundo percebe que, como diria Ataulfo Alves, os eleitores só querem “casa, comida, boa vida e dinheiro para gastar”, por aqui, a pedra de salvação do discurso progressista sempre resvala na falácia da “defesa da democracia”. E enquanto isso, nada de entregar o ajuste fiscal. Afinal, é mais fácil seguir culpando o Banco Central pelos juros altos. A democracia não está em risco nos EUA nem aqui. O que está em risco é a hegemonia do pensamento progressista moderno, e isso deixa a turma muito nervosa.