Por Márcio Carvalho, arquiteto, sócio da Smart Arquitetura, Neorama, Miagui e do Kempinski Laje de Pedra
No mês de novembro, fomos às urnas para escolher o desenho da nossa cidade. Ao votarmos para prefeito e vereador, ainda mais com a necessária reconstrução pós-enchente, decidimos quem influencia e nos representa no plano diretor do município. E o mesmo acontece quando elegemos o arquiteto que projeta nosso apartamento, a incorporadora que constrói nosso prédio ou o programa social que promove a habitação popular.
Porto Alegre vem ganhando edifícios que são mais do que mantos protetores
A Porto Alegre de hoje representa 252 anos de escolhas e transformações que revelam quem fomos e somos, o que desejamos, como vivemos e viveremos. Ao observar suas edificações, é possível saber quem morou ali, sem conhecer essas pessoas. Além de entender os valores da sociedade de cada época. Basta olhar para ícones como o Palácio da Justiça, dos gaúchos Carlos Fayet e Fernando Corona; e o Centro Administrativo Fernando Ferrari, apelidado de “Rampa de Skate”, projetado por Charles René Hugaud, Ivanio Fontoura, Leopoldo Costanzo e Luis Carlos Macchi.
Hoje, depois de décadas de projetos em larga escala, passando pelas fachadas de granito dos anos 1980 e dos condomínios-clube pastilhados dos anos 1990, a capital gaúcha volta à arquitetura autoral, com assinaturas que, por si só, já valorizam o metro quadrado. Nomes como os de Arthur Casas, Isay Weinfeld e Marcio Kogan, todos de São Paulo, vão surgindo em nosso skyline. Com origem gaúcha, e ao lado de escritórios como Stemmer Rodrigues, a Smart Arquitetura, fundada por mim e Ricardo Ruschel há 15 anos, tem a honra de estar à frente deste movimento, apostando no que chamamos de Arquitetura do Sul da América do Sul, muito mais silenciosa, falando da nossa conexão com o próprio território.
Porto Alegre vem ganhando edifícios que são mais do que mantos protetores. Para que a gente, ao olhar para eles, veja nossa imagem e identidade refletida. E possa ouvir, como ouvi recentemente: esse edifício me representa. Quem sabe se, com as escolhas certas, a cidade inteira seja exemplo da elegância e da força gaúcha.