Por Henry Ventura, professor e ex-secretário de Cultura e Economia Criativa de Porto Alegre
Ecoa fundo em nossa alma o grito da natureza que devastou sonhos, ultrapassando uma visão individual e ganhando força no espírito coletivo. Em meio ao caos, a cidade revelou sua fragilidade, mas também uma força que não imaginávamos ter. Dissipamos o medo com gestos simples, nascidos da adversidade, e assim aprendemos a nos reinventar. Como Mario Quintana ensinou, os problemas são efêmeros como a chuva que cai e se vai. O que permanece é a força de recomeçar, e é com ela que agora olhamos para o futuro.
A 70ª Feira do Livro de Porto Alegre surge como um farol nesse processo de renovação. Não se trata apenas de um evento literário, mas de um espaço de reflexão e reinvenção. Aqui nos perdemos e nos encontramos, mas sobretudo somos chamados a repensar o que somos e o que podemos ser. A cidade que se refaz da dor se reinventa na cultura. Cada livro lido, cada conversa trocada, é um tijolo na construção de uma Porto Alegre mais humana, mais solidária, mais resiliente.
Cada livro lido, cada conversa trocada, é um tijolo na construção de uma Porto Alegre mais humana, mais solidária, mais resiliente
Porto Alegre, como tantas grandes metrópoles, sente os ecos de uma natureza imprevisível, que exige mais do que a simples reconstrução material. Para se refazer por completo, é preciso restaurar o sentido de pertencimento, de comunidade. A verdadeira recuperação vai além do concreto: ela é feita de laços e de uma união que transcende a dor.
A cultura e a educação são as raízes dessa transformação. Elas são a argamassa que fortalece os vínculos e constrói a base de um futuro mais justo e sustentável. Porto Alegre, com sua rica tradição cultural, tem em mãos a semente da mudança. Para isso, é necessário que governo, sociedade e setor privado se unam para garantir que a reconstrução seja não só física, mas também humana e inclusiva.
Entre as páginas da feira, estamos, todos nós, reescrevendo a cidade. Cada reflexão gerada, cada diálogo trocado, é um passo para uma Porto Alegre mais consciente e criativa. O futuro da cidade está sendo reescrito agora, e nós, como comunidade, temos a caneta nas mãos.