Por Paola Coser Magnani, presidente do Instituto de Estudos Empresariais (IEE)
Sempre que vou visitar a dona Olga, sou recebida com um sorriso e uma mesma pergunta: como está o trabalho, minha neta? Para uma pessoa como ela, trabalhadora do campo, que viveu o dia a dia árduo da plantação, não havia outra possibilidade senão a lavoura. A preocupação diária da dona Olga era trabalhar para colocar comida na mesa.
A realidade é diferente para as novas gerações. O trabalho se tornou complexo não por esforço braçal, e sim por algo muito mais sorrateiro e ameaçador: a burocracia. Disso dona Olga se livrou.
Especialistas dizem que é preciso obter, em média, 12 licenças, inscrições municipais, estaduais ou federais para abrir e operar uma empresa
Atualmente, não basta a vontade de montar um negócio. Há uma série de ritos que devem ser cumpridos antes. Cadê a licença? Onde estão os documentos? Os cadastros já estão feitos?
O brilho nos olhos de criar um negócio novo, impactar a sociedade e gerar riqueza hoje é ofuscado pela burocracia, e isso é de conhecimento geral da população. Mas esperar dos governos que deixem as pessoas trabalharem e se responsabilizarem por suas vidas se tornou uma utopia.
Queremos fomentar o ambiente de negócios, oferecer o melhor produto, contratar as melhores pessoas. Porém, especialistas dizem que é preciso obter, em média, 12 licenças, inscrições municipais, estaduais ou federais para abrir e operar uma empresa.
Pequenas e microempresas brasileiras gastam uma média de 180 horas por ano para resolver questões burocráticas, segundo o Índice de Burocracia da América Latina de 2022, publicado pelo Centro Latino-Americano da Rede Atlas e pelo Centro Adam Smith para Liberdade Econômica, da Universidade Internacional da Flórida. Dizem que a situação vai melhorar com a reforma tributária. Será verdade? Sabemos somente que os impostos aumentarão.
Mesmo assim, todo dia o trabalho é feito, o trabalhador se reinventa e descobre formas de prosperar e ser mais eficiente. O valor do trabalho duro é capaz de moldar uma sociedade próspera. Como diz a dona Olga até os dias de hoje, aos 94 anos de idade: “Feliz é aquele que pode trabalhar”. Eu ousaria acrescentar: se o governo não atrapalhar.