Por Anthony Ling, urbanista e editor da plataforma Caos Planejado, e Rodrigo Rocha, urbanista e sócio do Grupo Ospa
O desafio na reconstrução de comunidades destruídas pelas enchentes é imenso.
O que ficou acima da cota de inundação foi, via de regra, poupado, mas casas térreas e sobrados autoconstruídos, como os da Vila Farrapos, foram os mais impactados. Ali, apesar de não ser um bairro verticalizado, 3 mil famílias vivem em densidade perto de mil hab/ha, quatro vezes a do Bom Fim, um dos bairros mais densos de Porto Alegre. Historicamente, a regularização desses territórios se deu com novo parcelamento em pequenos lotes com sobrados unifamiliares.
Uma verticalização inteligente poderia ser uma alternativa para acomodar moradores nos seus locais de origem, além de reduzir a vulnerabilidade a desastres naturais
A solução horizontal seria pela flexibilidade de reformas e para evitar manutenção condominial. Mas caso fosse seguida à risca, acomodaria menos da metade da população original na mesma área. Consequentemente, famílias seriam deslocadas para regiões mais distantes, perdendo os vínculos com a sua origem e reduzindo seu acesso a empregos e serviços essenciais. Na prática, como no loteamento Pampa, as famílias acabam retornando ao local e à condição anterior em que moravam, repetindo a alta densidade com “puxadinhos”.
A densidade indica a atratividade de uma localização e deve ser levada em conta na reconstrução. Uma verticalização inteligente poderia ser uma alternativa para acomodar moradores nos seus locais de origem, além de reduzir a vulnerabilidade a desastres naturais. Sua arquitetura poderia integrar os edifícios às calçadas, e baixas alturas dispensariam elevadores, reduzindo custos de manutenção. Térreos poderiam prever usos e materiais com resiliência a inundações, e o melhor aproveitamento do solo poderia abrir espaço para novas áreas públicas, assim como ajudar no financiamento da construção.
Para tal, o poder público seria fundamental no reparcelamento do solo e na realocação de unidades entre os moradores, assim como no apoio na gestão do condomínio resultante. Com equilíbrio entre desenvolvimento urbano e coesão social, podemos construir cidades mais inclusivas e preparadas para as adversidades do futuro.