Por Gabriela Ferreira, Consultora em inovação e professora da PUCRS
Dois terços da riqueza do mundo estão nas mãos de 1% da população mundial, diz um relatório da Oxfam de 2024. No Brasil, 63% da riqueza pertence a 1% da população, enquanto 50% dos mais pobres detêm apenas 2% do patrimônio do país. E aqui a desigualdade anda de mãos dadas com o racismo: em média, a renda dos brancos está mais de 70% acima da renda da população negra.
A democracia e as instituições inclusivas são um caminho fundamental para avançar no desenvolvimento econômico de um país e do mundo
E é nesse cenário que os ganhadores do Prêmio Nobel de Economia de 2024, anunciado nesta semana, trazem novas perspectivas sobre a razão pela qual existem diferenças tão grandes entre as nações. Ao analisar sistemas políticos e econômicos de vários países de colonização europeia, os pesquisadores demonstram a relação entre instituições e prosperidade. Resumidamente: nos casos onde havia riqueza no território — e pessoas a serem exploradas para o trabalho — a estratégia foi de extrativismo, e as instituições criadas com essa finalidade. Já nas colônias onde não havia tanta riqueza ou mão de obra, os colonizadores foram obrigados a criar instituições capazes de gerar condições econômicas inclusivas, incentivando os colonos a trabalharem arduamente pela sua nova pátria. Entre outras coisas, isso levou a reivindicações por direitos políticos que definiram que uma parte dos lucros iria para as pessoas.
E a pergunta que não quer calar é: se essas são as causas, é possível reverter o quadro?
A notícia boa: sim, os pesquisadores mostram que a mudança é possível e que novas instituições podem ser formadas. Um país pode libertar-se das instituições que herdou, estabelecer a democracia e o Estado de direito para que, no longo prazo, essas mudanças promovam a redução da pobreza.
A notícia desafiadora: enquanto o sistema político beneficiar as elites, a população em geral não terá garantias de mudanças nos sistemas econômicos.
A notícia que é muito antiga, mas é o óbvio que precisa ser dito: a democracia e as instituições inclusivas são um caminho fundamental para avançar no desenvolvimento econômico de um país e do mundo.