Por Antônio Brocker Junqueira, fundador e diretor de criação da A27
As manhãs de domingo, embebidas na voz de Galvão Bueno, narrando as esplêndidas vitórias de Ayrton Senna, são agora saudades eternas de uma nação. As madrugadas, antes repletas de conversas refinadas, encerradas com o icônico "beijo do Gordo", se calaram. O aviãozinho de "Quem quer dinheiro?" não voa mais pelos estúdios, e as gargalhadas de um mestre que tanto nos brindou caíram no silêncio. O mais sublime “boa noite” cedeu lugar a um doloroso “adeus”, e as anedotas sarcásticas de Ary já não encontram plateia. Até os domingos de "Ô loco, meu" e as trapalhadas da Turma do Didi se transformaram em lembrança, embora Fausto Silva resista, e Didi e Dedé permaneçam firmes. Bem como o inconfundível Galvão. Nem mesmo as vitórias da seleção canarinha nos enchem mais de orgulho, o que antes era quase certo deu lugar à amarga e provável derrota.
A TV tradicional, ao contrário do que muitos acreditam, segue ativa, propondo novos formatos que dialogam com a contemporaneidade
Entre tantas despedidas, foi-se também a era dos comerciais e das marcas que, embora focadas em vender, tornaram-se parte da nossa cultura, a ponto de se transformarem em jargões populares. Afinal, todos tivemos uma primeira vez, não é, mestre Washington Olivetto?
A televisão que conhecíamos se despede. Mais do que isso, parte de nós também. O tempo é implacável e o mundo gira. As emissoras resistem, renovam-se e surpreendem. A TV tradicional, ao contrário do que muitos acreditam, segue ativa, propondo novos formatos que dialogam com a contemporaneidade. Quer queiramos ou não, ainda confiamos nela para conhecer a verdade e acompanhar os grandes acontecimentos. Os mais talentosos estúdios de dramaturgia e o melhor jornalismo continuam a nos chegar pela televisão e pelas páginas impressas.
A televisão que conhecíamos morreu. E, de certa forma, continuará morrendo. Mas a nova TV está viva, mais viva do que nunca.