Por Cláudio Antônio Cassou Barbosa, desembargador do Trabalho, coordenador da Comissão de Direitos Humanos e Trabalho Decente do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região
Em 2003, a Organização Mundial da Saúde (OMS) instituiu o dia 10 de setembro para ser o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio. A campanha do Setembro Amarelo foi inspirada na história de Mike Emme, que cometeu suicídio aos 17 anos, em setembro de 1994, nos Estados Unidos. O ato de retirar a própria vida representa um extremo de desespero, causa muita dor e perdas irreparáveis.
São preocupantes os dados de adoecimento mental no mundo do trabalho. Há estudos que demonstram a incidência maior de estresse em determinadas atividades, em que ocorrem cobranças de metas inatingíveis, ameaças de demissão, baixa remuneração, excessivas jornadas de trabalho, conexão permanente através de aplicativos, e, muitas vezes, discriminações de gênero, raça, orientação sexual, idade e de toda ordem.
Garantias elementares, conquistadas com muita luta e reconhecidas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela Constituição Federal, na prática estão sendo ignoradas como se fossem obstáculos para a 'economia'
O trabalho moderno convive com o paradoxo da tecnologia do século 21 e a cultura do século 19, em que o trabalhador, muitas vezes, é tratado como mera mercadoria, sem alma e sem corpo. Garantias elementares, conquistadas com muita luta e reconhecidas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela Constituição Federal, na prática estão sendo ignoradas como se fossem obstáculos para a “economia”.
Nesse cenário, o adoecimento mental é uma consequência quase inevitável. Nem se fale em medidas de prevenção de riscos e de acidentes de trabalho, o que apenas em empresas organizadas é possível. Elas passam ao largo no trabalho informal, por plataformas ou “autônomo”. A terceirização é outro fator de insegurança, pois a pessoa trabalha e sequer tem certeza se o salário vai ser depositado.
Precisamos estar atentos para a saúde do colega de trabalho. Perder a esperança, a perspectiva de vida, ou sofrer algum tipo de assédio pode levar à depressão. O suicídio muitas vezes acontece num ato de desespero e poderia ser evitado se a pessoa tivesse a chance de ser ouvida, de receber um abraço. O Programa Trabalho Seguro, da Justiça do Trabalho, conclama a sociedade para a prevenção de suicídios e a promoção da saúde mental.