Por Wilen Manteli, presidente da Hidrovias RS
É inquestionável que a falta de dragagem contribuiu decisivamente para a desastrosa invasão das regiões ribeirinhas gaúchas. Há décadas nossos rios e lagoas registram elevados passivos em termos de ausência dos serviços de conservação das suas margens, da mata ciliar, de dragagem e das barragens eclusadas.
Como sempre ocorre após as tragédias, surgem várias propostas para evitá-las. Importante e necessária essa busca por soluções, mas agora deve-se, prioritariamente, enfrentar a dragagem dos trechos assoreados que apresentam os maiores gargalos para escoamento das águas. Entre as ações que se impõem, destaca-se um vigoroso programa de dragagem permanente dos cursos d’água.
Nessa busca por soluções para o controle das enchentes, não seria necessário reinventar a roda. O grande Leonardo da Vinci já aconselhava: “Se tens que lidar com a água, consulta primeiro a experiência, depois a razão”. Por exemplo, poderíamos aprender com a experiência dos holandeses, que são comprovadamente competentes em lidar com as águas, já que convivem com um terço do seu território abaixo do nível do mar.
Entre as ações que se impõem, destaca-se um vigoroso programa de dragagem permanente dos cursos d’água
Outra histórica e importante experiência no manejo das águas foi a façanha dos Estados Unidos, que nos idos de 1933, durante a Grande Depressão, levaram a efeito um gigantesco empreendimento no Vale do Tennessee, outrora uma região de extrema pobreza, ora castigada por secas, ora por enchentes. Para enfrentar aquele desafio, criaram a Tennessee Valley Authority-TVA, que passou a atrair vários empreendimentos a partir dos recursos hídricos e energéticos, controlando enchentes, fomentando a navegação, modernizando a agricultura etc. O resultado foi um extraordinário desenvolvimento de toda a área de influência do Rio Tennessee e dos Estados nele envolvidos.
Acredito que o governador Eduardo Leite, no seu Plano Rio Grande, não deixará de considerar as experiências referidas, que deram certo. O Vale do Taquari, guardadas as devidas proporções em relação ao Vale do Tennessee, poderia ser objeto de um programa similar – quer pela gigantesca recuperação que necessita, quer pelo notável potencial contido em seus 36 municípios.
Os rios não são problemas, mas soluções. É hora de aprendermos com Da Vinci, os norte-americanos e os holandeses que não se deve “domar”, porém “negociar” com os rios.