Por Gabriela Ferreira, consultora em inovação e professora da PUCRS
Em tempos de crise climática e catástrofes ambientais, divulgar boas ações sustentáveis é algo positivo, certo? Pode parecer estranho, mas a resposta não é simples, e muito menos óbvia. E a verdade é que enquanto a palavra sustentabilidade sai do mundo acadêmico para ganhar as ruas alagadas das cidades e ser protagonista – finalmente! – das conversas de bar, há uma tendência crescente no sentido contrário. Sim: aumenta o número de empresas que optam por não divulgar suas ações sustentáveis, com receio de como elas serão recebidas pelo mercado.
Com o aumento da valorização por produtos sustentáveis, social ou ambientalmente falando, aumenta a vontade das empresas em tê-los. E, a partir disso, infelizmente, surgem casos de verdades não comprovadas, por assim dizer. Foi assim que surgiu, na década de 1980, o termo greenwashing, traduzido como “maquiagem verde”, que se refere às alegações não verdadeiras de sustentabilidade, seja ambiental ou social.
Fazer algo bom é ruim? A pergunta é estranha, mas é disso que trata o green hushing
Muitos processos jurídicos depois, agora está acontecendo o contrário: empresas estão evitando divulgar suas ações para não correr o risco de serem julgadas e condenadas, mesmo que pela opinião pública, sobre suas ações.
Já em 2022, de acordo com relatório da South Pole, quase 25% das 1,2 mil empresas pesquisadas com foco em sustentabilidade não anunciavam seus resultados além do mínimo com medo de serem acusadas de greenwashing. Xavier Font, pesquisador da Universidade de Surrey, no Reino Unido, identificou a mesma tendência em pesquisa com pequenas empresas.
Assim, green hushing é o novo termo “da moda”.
Ele significa o silêncio de quem, fazendo o bem, tem medo de ser acusado de não fazer o suficiente. De quem, mesmo correndo o risco de não ter o reconhecimento merecido, quer fugir da patrulha do correto a todo custo. O greenwashing é algo que, como toda mentira, temos que combater. Mas que essa tarefa não sufoque as ações corretas, das quais precisamos para mostrar que fazer o certo é viável. A solução? Transparência, sempre.