Por Fábio Bernardi, sócio-diretor da HOC
Certa vez o escritor vencedor do prêmio Pulitzer, Thomas Friedman, autor de dois ótimos livros, O Mundo é Plano e Obrigado pelo Atraso, ao ser perguntado sobre os empregos do futuro, respondeu: “Por séculos trabalhamos com nossas mãos. Então, no último século, trabalhamos mais com as nossas cabeças. Eu acredito que no futuro próximo nós trabalharemos muito mais com nossos corações, combinando empatia com conhecimento técnico”.
Esta é uma brilhante definição do mundo do trabalho que será impactado pela inteligência artificial, mas com um olhar para além do avanço tecnológico. Uma visão que não subestima a criatividade e tampouco menospreza tudo que ainda podemos, e vamos, fazer como humanos. Porque se o crescimento exponencial da inteligência artificial é irrefreável e inescapável, isso não significa que tenhamos que aceitar uma robotização da vida. Máquinas podem substituir funções, mas não irão substituir pessoas.
São pessoas, e não máquinas, que continuarão se relacionando, consumindo, casando-se, tendo filhos e criando o mundo em volta com suas emoções e desejos
Basta pensar o quanto você gostaria de receber um abraço de um robô ou apenas lembrar que não existe emoção artificial. São pessoas, e não máquinas, que continuarão se relacionando, consumindo, casando-se, tendo filhos e criando o mundo em volta com suas emoções e desejos. A realidade terá que ser, cada vez mais, construída pelo conhecimento e pela empatia juntos.
Se este é um dos caminhos, e me parece que é, então precisamos ter, também, o crescimento da criatividade e da arte como forma de o homem repensar a si mesmo e ao mundo, como alternativa de evolução pessoal e coletiva, como construção contínua da vida. Quanto mais tecnológico for o mundo, mais precisaremos da criatividade e da arte para nos dar sentido, para fazer a ponte entre o que fomos, o que somos e o que seremos. Máquinas podem nos dar dados, informação, conhecimento e até ideias. Mas só a arte e a empatia nos dão sabedoria e sentido.
Esta discussão pode parecer um tanto abstrata, mas não é. Discutir que sociedade teremos, e qual o papel do emprego e do trabalho no futuro, e a relevância da arte e da criatividade, deveria ser um foco essencial de famílias e nações. Afinal, pais e país não são a mesma palavra por acaso. Em ambos, o tamanho do seu legado se demonstra pela educação que dão aos seus filhos, como os preparam para o futuro, como os habilitam para o emprego e para a vida. O avanço da tecnologia não está sob nosso controle. A forma como valorizamos a criatividade, a arte, o conhecimento e a empatia só depende de nós. Em casa ou nos governos.