Por Fábio Bernardi, sócio-diretor da HOC
Eu não sei vocês, mas tudo que eu estou sabendo no momento é que eu não sei. Olho para o Brasil e o mundo e não sei um monte de coisas. Ao contrário de mim, a maioria parece que sabe tudo. Basta abrir um jornal, um site ou uma rede social e aparecem os donos da verdade, cuspindo regra, moral, conselho ou xingamento. É a prova de um fenômeno: o Brasil tem uma dificuldade enorme de pensar. Vamos nos apequenando na discussão do dia a dia, da superfície, da espuma, da subnotícia da subcelebridade. E assistimos passivamente ao crescimento da desinteressância. Gostamos é de reclamar e de ampliar a reclamação. Difícil é a troca de ideias, que pressupõe duas coisas: uma ideia a ser trocada e ouvir com disposição de trocá-la. E ambas estão escassas numa sociedade cada vez mais polarizada em suas posições ideológicas, religiosas, sociais e culturais.
Ideias, e não políticos, deveriam ser as grandes protagonistas da vida pública de um país. É preciso se perguntar que Estado queremos daqui a 20, 30, 50, cem anos. Se olharmos o momento, há vários temas relevantes e com potencial transformador em pauta no país e no mundo. Estão sendo debatidos com seriedade, profundidade, conteúdo e senso de coletividade?
Ideias, e não políticos, deveriam ser as grandes protagonistas da vida pública de um país
Aqui no Estado, por exemplo, quase não há debate aberto, não há artigos aprofundados na imprensa, não há grandes fóruns para se discutir uma ideia olhando, não para o hoje, mas sim para a transformação que ela provocará. São Paulo tem fóruns da Revista Exame, da Folha, do Valor e de outros players de conteúdo, eventos em Nova York para se vender a investidores, rodadas de negócios com câmaras internacionais de comércio. Claro que nossa classe política poderia ajudar mais, mas imprensa e empresariado, entidades e associações também poderiam ser menos corporativistas e mais preocupados em ter uma visão de Estado com fôlego para enfrentar os desafios do futuro em um mundo que se transforma exponencialmente. No livro A Cultura do Crescimento, Joel Mokyr demonstra claramente que quase tudo que cresceu na economia mundial nos últimos 300 anos foi consequência de como as pessoas passaram a pensar. É o conjunto de crenças, referências e valores culturais de uma região ou grupo de pessoas que molda o ritmo, o jeito e a direção do crescimento. Como estamos pensando aqui no Rio Grande do Sul?