Por Gabriela Ferreira, consultora em inovação e professora da PUCRS
Alterações climáticas, redução da biodiversidade, poluição do ar. Desigualdade social, fome e segregação racial. Mobilidade caótica, escassez de água e resíduos não tratados. A lista dos problemas do mundo é tal que parece um caos, seja na dimensão econômica, social ou ambiental, temos enormes desafios. E, de certa forma, vivemos realmente no caos.
Porém, o futuro é promissor e devemos acreditar nisso, prega o futurista alemão Gerd Leonhard.
Estamos atrasados com as metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, e o desemprego voltou a aumentar no Brasil depois da recuperação pós-pandemia. O Brasil, que produz comida suficiente para alimentar 10% da população global, tem mais de 21 milhões de pessoas que não têm o que comer todos os dias e 70 milhões em insegurança alimentar, de acordo com relatório da ONU do mês de julho. No mundo são 2,3 bilhões de pessoas que não têm certeza se terão o que comer na próxima refeição.
Existem muitas tecnologias testadas e aprovadas para promover sustentabilidade e inclusão
E então, de onde esse futurista tira o otimismo? Leonhard, ao contrário de alguns – mais pessoas do que gostaríamos, é verdade –, não é negacionista. Ao contrário, ele diz ter plena consciência dos problemas e desafios da humanidade neste momento histórico. Sua visão otimista vem da capacidade humana de superar adversidades, desde que – ele ressalta – as pessoas trabalhem em conjunto e com intencionalidade. Autor do projeto The Good Future – Projeto para um Futuro Bom, em tradução livre, no qual reúne alternativas viáveis para melhorar o planeta, ele acredita que o maior desafio é a descarbonização da economia.
Temos alternativas energéticas aos combustíveis fósseis – o Brasil, inclusive, é referência. Sabemos reciclar resíduos e transformá-los em matéria-prima. Temos tecnologia para produzir alimentos de forma sustentável. Existem muitas tecnologias sociais para promover inclusão e acolher a diversidade. Sabemos – ou podemos aprender facilmente – o que é ser uma pessoa ética.
É disso que se origina o otimismo do futurista. Mas ele avisa: “Para ter um futuro bom, temos que dar nossa atenção, nosso dinheiro e nossa energia para coisas boas. Temos que ser bons”.
É tarde demais para sermos pessimistas, disse o documentarista e ativista francês Yann Arthus-Bertrand, que usa sua sensibilidade e suas habilidades para mostrar as belezas do mundo e chamar atenção para o impacto humano. Acho que, mais do que ao otimismo de Leonhard, eu me alinho com esta visão.
Os desafios são tão enormes que sermos pessimistas pode nos paralisar e nos fazer desistir. E nós precisamos agir.