Ely José de Mattos, economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS
Há algum tempo acompanhamos que o crescimento do movimento ESG está mobilizando o mundo corporativo. A sigla, que vem de palavras em inglês, sugere ao cenário de negócios e investimentos preocupações com meio ambiente (E), questões sociais (S) e governança (G). Em resumo um tanto grosseiro, esse movimento diz respeito ao fato de as empresas passarem a levar em conta, no contexto de suas operações regulares e investimentos, elementos como sustentabilidade ambiental da sua atividade, igualdade salarial e de oportunidades entre funcionários, relação saudável com a comunidade, entre vários outros aspectos.
O engajamento ESG, para que alcance resultados relevantes para a sociedade, não pode representar uma estratégia de ação pontual
Esse direcionamento dos negócios para cuidar de dimensões ESG está associado a duas motivações centrais. Uma delas é o atendimento das demandas de organismos internacionais ou da sociedade civil organizada – que deixam claro que as empresas, enquanto agentes com função social, são relevantes e precisam fazer sua parte ao lidar com questões prementes da atualidade. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da ONU, são um bom exemplo de manifestação da sociedade sobre a urgência de um conjunto de temas sociais e ambientais.
A outra motivação é o fato de que o mercado consumidor passa a ser mais sensível ao ESG, reconhecendo e valorizando empresas que sinalizam se alinharem a essas práticas. Assim, empresas também buscam ações em ESG para ter melhor performance de mercado (lucro, no final das contas!).
É justamente essa associação entre uma demanda que nasce na sociedade e estimula as empresas a agir e, com isso, também alcançar retornos para si que empresta ao movimento ESG um potencial transformativo incrível. No entanto, também carrega o risco de que vire um discurso vazio.
O engajamento ESG, para que alcance resultados relevantes para a sociedade, não pode representar uma estratégia de ação pontual para atingimento de metas de performance financeira. Trata-se de uma mudança de postura mais profunda, que empresta ao negócio uma perspectiva de atuação que deve estar impregnada nas ações e nos valores da corporação. O potencial prêmio de performance é consequência – e, por vezes, obtido apenas em mais longo prazo.
Assim, para que o ESG não se transforme em apenas uma sigla vazia, é preciso que sua essência seja respeitada: um movimento de alinhamento às demandas sociais e ambientais atuais por convicção de que cada negócio tem um papel (e uma responsabilidade) a cumprir na sociedade.