Por Fábio Bernardi, sócio-diretor da HOC
Uma sequência de palavras enfileiradas de um jeito que te faz perder o fôlego. O gol do Gérson ou do Mauricio no último domingo. Uma pincelada mágica na tela em branco. Aquela cantada original que te desacomoda. O jeito que só aquela sua tia tem de fazer o chimarrão. A música que diz tudo que você queria dizer e não conseguia. O gesto que diz o que nenhuma música conseguiria dizer. O desdobre maroto do netinho no avô. A embaralhada de pernas que esconde a bola do adversário. O xeque-mate inesperado. O tempero do prato e a apresentação que te faz comer com os olhos. Uma pá, um baldinho e um castelo na areia. Uma foto em preto e branco ou uma explosão de cores com giz de cera.
O teu olhar que faz o mesmo pôr do sol não ser nunca o mesmo pôr do sol
O giro do corpo no ar em direção ao trapézio. O palco para 50 mil e nele apenas um banquinho e um violão. Uma corda esticada entre duas árvores. Um palhaço que te faz rir. Cem mil aplicativos de celular. A tabela incrível que derrubou a bola na caçapa impossível. Todas as formas iguais de dizer “eu te amo”. Todas as formas diferentes de ouvir “eu te amo”. O jeito mais rápido de respirar entre cada braçada. O saque Jornada nas Estrelas, a supermãe que é, o ingrediente que faltou e gerou uma nova receita. Uma cadeira feita com bichos de pelúcia. Aquele evento de um dia inteiro que você não viu passar. Aquele vídeo no YouTube que você já viu dezenas de vezes como se fosse a primeira vez. A primeira vez. Uma revista impressa com textos longos em plena era digital. Ter o maior número de quartos do mundo e não ser um hotel. Um passo de dança, um passo adiante na empresa, um passo a vez no pôquer. Um vestido, um biquíni e um sapato feitos artesanalmente. O carvalho, a cereja, a pimenta preta e todas as infinitas nuances de um vinho. Aquela timeline que você segue no Instagram. As pedras na mão de um escultor. O jeito de pegar aquela onda. A nova onda. As perguntas de uma criança. O teu olhar que faz o mesmo pôr do sol não ser nunca o mesmo pôr do sol.
Os livros, as pinturas, os discos, as esculturas, os filmes, as viagens, as reuniões, os esportes, as brincadeiras, os negócios, as comidas, os amores, a vida. O cartão, mais do que as flores.
A criatividade muda tudo. Tira ela das coisas e não sobra nada. Nem este texto.