Alfredo Fedrizzi, conselheiro e consultor
Em 2010, o chef e apresentador de TV José Andrés organizou a ONG World Central Kitchen para fornecer refeições e água potável após desastres naturais, guerras e conflitos políticos. Buscou soluções com chefs locais e voluntários para resolver o problema da fome imediatamente após esses eventos. Já atuaram em vários países do mundo. Andrés é espanhol e vive em Washington. É dele a frase: “Precisamos construir mesas maiores e muros menores”.
Li e a reflexão bateu: O que será que meus netos, hoje com um ano e meio, vão pensar do mundo que estamos deixando para as próximas gerações? Será que é o que eles querem? E, individualmente, que legado positivo posso eu deixar para nossas crianças?
Está na hora de um olhar interno profundo para ver que tipo de contribuição cada um pode dar ao todo
A pré-estreia do mundo que virá já temos: enchentes, superaquecimento, terremotos, deslizamentos, extinção de espécies, pandemia, câncer, AVCs, burnouts, como nunca houve. Se não mudarmos nosso modo de ser como sociedade, com menos estresse, consumo consciente, olhando florestas, rios, montanhas e oceanos não como algo a ser explorado e exaurido, mas como uma parte de nós que precisa ser cuidada e respeitada, os dias serão bem mais exigentes. Muitos de nós não estarão aqui quando a “encomenda” chegar, mas nossos filhos e netos, sim! Se nada mudar, a catástrofe é o caminho natural.
Está na hora de um olhar interno profundo para ver que tipo de contribuição cada um pode dar ao todo. Pensar não apenas no Eu, mas no Nós, é o primeiro passo! Estamos adicionando algo à vida dos outros e à vida do planeta? Ou só tirando? Qual a nossa omissão ou contribuição para o aumento da desigualdade social, de vidas cada vez mais precárias, da violência e da destruição do planeta? Quando leio que por trás do aumento de suicídios, da violência nas escolas, na política e nas ruas estão pessoas solitárias, vidas vazias e sem propósito, sinto que não dá para encarar tal desajuste com naturalidade. Vivemos no Brasil uma crise de saúde mental sem precedentes. Não podemos só pensar no nosso dinheiro e na nossa segurança pessoal. Pequenas atitudes já não são suficientes. É preciso uma mudança completa no nosso modo de agir. Ou passaremos a vida inteira na fila de espera, desejando que alguém faça algo para termos uma sociedade melhor. Ou vamos olhar com estranhamento essa vida insegura que está diante de nós e agir.
E a ação é para ontem! Como escreveu Elisa Lucinda: “Sei que não dá para mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final”.