Por Antônio Cesa Longo, presidente da Agas
Presente em 100% dos municípios gaúchos, os supermercados do nosso Estado recebem, diariamente, mais de 3,5 milhões de consumidores em suas lojas. Essa penetração ímpar faz com que o ponto de venda, muitas vezes, antecipe, para quem trabalha no setor, dados estatísticos que os institutos especializados apontam semanas mais tarde, ou seja, o varejo de alimentos é uma grande escola e um extrato antecipado – em tempo real – dos movimentos econômicos dos seus clientes. Há muito temos notado com preocupação, em situações do cotidiano, as dificuldades evidentes que os clientes vêm tendo ao comporem sua cesta de compras.
A pressão inflacionária sobre os alimentos e outros produtos de necessidade básica tem em sua manjedoura uma série de causas, mas, para muito além disso, as constantes altas incidentes sobre outros custos regulares dos gaúchos vêm espremendo ainda mais o poder de compra dos nossos cidadãos. Os aumentos em contas de energia, combustíveis e gás de cozinha, entre outros, têm pressionado os clientes, que precisam fazer verdadeiras engenharias diante das gôndolas para que os produtos caibam minimamente em seu orçamento. É uma verdadeira aula de gestão, um MBA diário dos consumidores nos supermercados de todo o RS.
A pressão inflacionária sobre os alimentos e outros produtos de necessidade básica tem em sua manjedoura uma série de causas
Neste sentido, vemos com preocupação os anúncios de novos aumentos sobre combustíveis e gás de cozinha apresentados nos últimos dias. É muito claro para nós, supermercadistas, o movimento de mercado quando altas assim acontecem. No caso dos combustíveis, por exemplo, para cada R$ 1 em aumento da gasolina, o consumidor diminui em cerca de R$ 0,20 o custo de sua cesta no supermercado, ou seja, são R$ 0,20 a menos em itens como pão e leite que este cliente estará adquirindo. A capacidade criativa do consumidor ao fazer suas compras é invejável, mas sempre há um limite para esta flexibilidade. Somando-se a estas questões, há ainda a pressão do diferencial de alíquota imposto sobre o ICMS recentemente, que chegou a triplicar os impostos estaduais pagos por alguns supermercados mensalmente ao governo.
Assim como o governo federal, a Secretaria Estadual da Fazenda do RS – pela qual já referimos nossa admiração pela capacidade de diálogo e eficiência – precisa socorrer os consumidores, retirando das famílias gaúchas o peso que está sendo carregar o fardo da supertributação dos alimentos e produtos básicos para todos os gaúchos. Nossos cidadãos são, sem sombra de dúvidas, verdadeiros professores na gestão dos seus recursos – mas a sala de aula está momentaneamente muito bagunçada para que eles consigam aplicar sua aula.