Ely José de Mattos, economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS
Esta semana foi lançado o World Happiness Report (WHR). Neste relatório, o Brasil ocupa a 49ª posição, em um total de 137 países. Além de não ser uma posição confortável, este último relatório aponta que o país perdeu 11 posições em relação à apuração do ano passado.
Já a pesquisa Global Happiness 2023 (GH), realizada pela Ipsos, e também divulgada nos últimos dias, aponta que Brasil é o quinto mais feliz em um grupo de 32 nações investigadas. Segundo esta pesquisa, o Brasil está à frente de vários países que estão na nossa dianteira no WHR.
Felicidade é um conceito tecnicamente complicado como balizador de política pública
Mas, já que ambas pesquisas tratam de felicidade, por que temos resultados discrepantes?
A resposta passa pela própria noção de felicidade e como ela é manifestada pelas pessoas. A pergunta que o WHR faz é baseada em uma abordagem em que as pessoas são estimuladas a pensar em uma escada, onde no topo está a melhor vida possível (nota 10) e na base a pior (nota 0). A partir dessa imagem, respondem em que ponto da escada se veem. No Brasil, o escore médio obtido no último relatório foi de 6,1 (a Finlândia, primeira colocada, tem escore 7,8).
Já a pergunta da Ipsos tem um aspecto mais direto, pedindo que a pessoa avalie seu nível de felicidade em uma escala de quatro níveis: “muito feliz”, “feliz”, “não muito feliz” ou “nada feliz”. No Brasil, 83% dos entrevistados dizem estar muito felizes ou felizes – na China, primeira colocada, este percentual é de 91%.
Assim, é natural que existam diferenças nas apurações em função da abordagem. E as diferentes perguntas nos estudos também estão associadas ao entendimento que se tem de felicidade. Trata-se de um conceito de alta complexidade de definição – e, por consequência, de mensuração.
Estes esforços de pesquisa acontecem com intuito de se entender se estamos vivendo ou não uma boa vida. E isso seria insumo para avaliar se o que estamos fazendo do ponto de vista de gestão social está adequado. Os governos estão trabalhando para que as pessoas sejam mais felizes? O mundo está ficando mais feliz?
Acontece que felicidade é um conceito tecnicamente complicado como balizador de política pública. E isso se deve ao fato de ele ser multifacetado, de modo que é difícil estabelecer as razões causais para seu resultado. Sim, precisamos de medidas de desenvolvimento que sejam mais amplas e efetivas do que o PIB. Felicidade pode ser um elemento adicional interessante. Mas penso que o que temos hoje ainda está longe de algo mais definitivo.