Alfredo Fedrizzi, conselheiro e consultor
Todos nós, em algum momento das nossas vidas, perdemos alguém importante. Um parente amado, uma companheira, um amigo, alguém que nos inspira. Momentos muito difíceis de serem vivenciados. E nem sempre conseguimos realizar o luto, fundamental para reconstruir a vida.
O luto é um processo que começa no dia em que uma pessoa muito importante para nós vai embora, e tem fases. A psiquiatra suíça Elisabeth Kubler Ross, um ícone nesse assunto, diz que o luto começa com a negação do que aconteceu. Depois vem a raiva, a negociação, a depressão, até chegarmos na aceitação.
E uma parte muito difícil nesse processo é o silêncio, momento em que ficamos muito distraídos do mundo e só prestamos atenção na nossa dor.
Quando acontece uma perda, muitas vezes nos sentimos desorientados e fora de controle e não conseguimos entrar em contato com a dor. Negamos ou idealizamos a situação, como se aquela perda não tivesse acontecido, como se ainda fosse possível fazer algo para manter a imagem viva.
Quando acontece uma perda, muitas vezes nos sentimos desorientados e fora de controle
A gente vê isso quando alguém que perde um filho, o marido ou a esposa deixa por muito tempo o quarto e as roupas intactas, alimentando a falsa ideia de que aquela pessoa ainda está presente de alguma forma.
Outra maneira é evitar falar na pessoa e tirar todas as referências dela da casa, na tentativa de evitar o contato com a dor, com o luto. Porque o luto dói.
No término de uma relação, na perda de um amor, às vezes o caminho que alguns encontram para se manter conectados, negando o luto, é o conflito.
Na realidade brasileira de hoje, desde que saiu o resultado das eleições, percebemos que para uma parte da população está difícil assimilar o que aconteceu e fazer o luto.
Muitos mantêm grupos fechados de WhatsApp e criam fatos que poderiam acontecer e não acontecem, buscando uma realidade que não se faz mais presente. E, assustadoramente, passam a viver em um universo paralelo.
Um artifício emocional que nega os fatos na busca de evitar a dor, mas não faz o luto. Esses grupos apenas se retroalimentam do que eles mesmos criam para si.
Convido-os a realizar o luto. A se permitirem ficar tristes.
E tocarem suas vidas em frente.