Ely José de Mattos, economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS
Passado o pleito, os novos mandatários se veem diante de desafios tremendos, tanto para o Brasil quanto para o Rio Grande do Sul. Na minha leitura, três questões se destacam como merecedoras de atenção imediata e, ao mesmo tempo, são as mais desafiadoras: emprego, combate à fome e meio ambiente.
O Brasil tem crescido em 2022 a taxas maiores do que se esperava – fruto, em boa medida, da recuperação do setor de serviços no pós-covid e das políticas de estímulo à demanda. A geração de emprego tem acompanhado esse crescimento. No entanto, a qualidade destas novas vagas ainda é ruim, na média. Observamos ampliação de informalidade, retração na remuneração e expansão de modalidades sem garantias trabalhistas. O desafio aqui: continuar crescendo, mas com geração de empregos formais que paguem melhor, o que estará associado à melhor distribuição de renda.
São demandas que precisam de olhar sistêmico, a partir de um planejamento de Estado
Pobreza e fome são problemas já bem documentados no Brasil atual. A rede de assistência social precisa ser mais do que o Auxílio Brasil – que é absolutamente necessário, mas não suficiente. O combate à fome precisará contar com a reorganização de uma estrutura institucional robusta, que estimule a produção na agricultura familiar e atue na distribuição de alimentos de maneira otimizada. Já fomos excelentes nessa área e precisamos retomar e aperfeiçoar esses mecanismos que garantem alimentação digna às pessoas.
Minha terceira questão diz respeito ao meio ambiente. Há muito que se fazer para construirmos uma política ambiental que esteja alinhada aos acordos internacionais e, particularmente, aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que são direcionadores relevantes para o desenvolvimento global até 2030. Desmatamento, queimadas, garimpo ilegal, manejo de resíduos, processo de licenciamento, tudo isso deve estar na agenda do Executivo e do Legislativo, nacional e estadual. No mundo contemporâneo, tratar o meio ambiente com centralidade não é opcional, mas deve fazer parte da estratégia de desenvolvimento.
Esses três desafios que listei são multidimensionais. Ou seja, não são tarefa para um ministério ou secretaria em específico. São demandas que precisam de olhar sistêmico, a partir de um planejamento de Estado. Melhorar o emprego, enfrentar a fome e respeitar o meio ambiente devem funcionar como norteadores para políticas públicas transversais aos setores e cargos.