Uma pesquisa encomendada pelo Instituto Unibanco ao Datafolha revela que as perdas de aprendizagem ao longo da pandemia são consideradas irrecuperáveis por 43% dos brasileiros – considerada a amostragem de 2.070 pessoas ouvidas em 129 municípios de todo o país, entre os dias 23 de novembro e 2 de dezembro do ano passado. A descrença manifestada pelos entrevistados reflete um certo desencanto com o ensino remoto, uma vez que o fechamento de escolas e a improvisação de aulas online de forma precária acabaram excluindo parcela expressiva de estudantes do aprendizado e da manutenção do vínculo escolar. Outros estudos que demonstram os elevados percentuais de abandono escolar confirmam essa frustração e indicam o tamanho do desafio que autoridades e educadores têm pela frente.
O sentimento que o superintendente do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques, classifica como “fatalismo pedagógico” talvez seja o primeiro ponto a ser enfrentado. Governantes, autoridades educacionais, gestores de escolas, professores e demais integrantes da comunidade escolar precisam se convencer de que há, sim, como compensar as perdas, recuperar conteúdos e restaurar o vínculo dos estudantes com as instituições de ensino. Essa, porém, é uma tarefa gigantesca que requer planejamento e ação, a começar pela oferta de condições seguras para aulas presenciais e aperfeiçoamento do ensino híbrido ou remoto.
Pelo que se sabe, muitas secretarias estaduais e municipais de educação já estão comprometidas com esse esforço. No Rio Grande do Sul, o programa Avançar na Educação, lançado em outubro de 2021, tem entre os seus focos prioritários a recuperação e a aceleração do ensino, com investimentos na infraestrutura física das escolas, na qualificação de gestores e professores e na atenção aos estudantes que perderam o vínculo escolar. A maioria das redes municipais segue o mesmo caminho.
Há, sim, como compensar as perdas, recuperar conteúdos e restaurar o vínculo dos estudantes com as instituições de ensino
Se os administradores do ensino estão conscientes e agindo, o descrédito revelado pela pesquisa demonstra que tais ações ainda carecem de comunicação adequada, para que a população brasileira volte a confiar no seu sistema educacional. Evidentemente, não se está aqui defendendo a propaganda oportunista e os anúncios mirabolantes que costumam ser feitos em anos eleitorais. O que pode funcionar como fator de convencimento para os cidadãos descrentes é a transparência, com prestação de contas sistemática e apresentação de resultados efetivos de progresso escolar. Pais e responsáveis por alunos só deixarão de desconfiar da escola se os seus filhos mostrarem interesse pelos estudos e evolução no aprendizado.
Com esse propósito, tanto a rede estadual de ensino do Estado quanto a da Capital elaboraram avaliações diagnósticas para identificar o nível de aprendizagem dos estudantes que ficaram sem aulas e as receberam de forma precária durante a pandemia. A partir desta aferição – que também deve ser levada ao conhecimento dos responsáveis pelas crianças e adolescentes para que voltem a confiar no sistema –, será possível fazer o planejamento da recuperação dos conteúdos que muitos alunos sequer tiveram a oportunidade de receber.