Uma série de episódios nos últimos anos agravou um problema fartamente constatado por diplomatas, empresários, pela academia e mesmo por grande parte da população: a degradação da imagem do país perante o mundo. Trata-se de uma percepção que não é somente simbólica ou tem efeitos apenas abstratos. Carrega riscos palpáveis de graves prejuízos em diversas frentes de negócios, da agricultura ao turismo, passando pelos investimentos.
A busca por tentar reverter a imagem do país não atende a interesses ideológicos e políticos, mas sobretudo econômicos
Não deve tardar um esforço conjunto de lideranças políticas, entidades empresariais e da sociedade civil para retrabalhar a marca Brasil. É preciso repensar uma estratégia para reverter a reputação ruim que o Brasil tem consolidado. O melhor juízo sobre o Brasil, é preciso ressaltar, não começou a se deteriorar no governo Jair Bolsonaro, embora agora atinja o seu auge. Vem desde a época da descoberta dos graves escândalos de corrupção durante as gestões do PT, desnudados pela Lava-Jato. O desvio de bilhões, com a Petrobras no epicentro, causou perplexidade além das fronteiras nacionais.
Os recentes episódios que envolveram a passagem da delegação do governo federal por Nova York, para a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, acentuaram essa preocupação. As cenas da comitiva brasileira comendo pizza em uma calçada, a constrangedora conversa de Jair Bolsonaro sobre vacinação com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e o gesto obsceno do ministro da Saúde, que depois testou positivo para a covid-19 nos EUA, foram apenas os mais recentes acontecimentos embaraçosos aos olhos sensatos. A visão externa sobre o país já vinha sofrendo pelo predomínio no noticiário internacional de fatos como destruição ambiental, ameaças de ruptura, péssima gestão da pandemia e declarações que chocam o mundo civilizado.
A busca por tentar reverter a imagem do país não atende a interesses ideológicos e políticos, mas sobretudo econômicos. Ao fim, significa melhores perspectivas para PIB, emprego e geração de renda. O selo de pária historicamente não cai bem no Brasil, conhecido mundialmente pela criatividade, pela alegria, pelo acolhimento e pela cordialidade do povo. É urgente resgatar esses atributos, o que não será possível se mantida a postura atual. Talvez seja uma empreitada que não conseguirá resultados imediatos, mas é preciso dar os primeiros passos.
Sob pena de aumentarem os riscos de desvalorização dos produtos nacionais ou mesmo crescer o perigo de boicotes, como os que cercam o agronegócio. Até mesmo a vinda de turistas estrangeiros pode ser afetada pela percepção negativa que prepondera no Exterior. Uma boa iniciativa nesse sentido é a criação do consórcio Brasil Verde, composto por alguns Estados, que têm o objetivo de estimular a economia verde e, por consequência, apresenta potencial de começar a resgatar uma visão mais edificante em relação ao país. Mas a tarefa de ressignificar a marca Brasil será árdua e exigirá o engajamento dos mais amplos segmentos da sociedade. E quem sabe, em um futuro não tão distante, contar até com a contribuição do poder central.