São gravíssimos e requerem rigorosa apuração, até o fim, os indícios e acusações sobre uma possível facilitação para exportação ilegal de madeira que levaram à deflagração ontem da Operação Akuanduba, que cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e ao afastamento por decisão judicial de 10 servidores do governo federal ligados à área. Os elementos recolhidos pelo trabalho da Polícia Federal (PF), com suspeitas que envolvem diretamente o ministro, tornam moralmente insustentável a permanência de Salles no cargo. É preciso que o presidente Jair Bolsonaro perceba a seriedade da situação e o afaste ao menos temporariamente da posição, até que todas as condutas possam ser melhor esclarecidas.
Caso se comprovem as denúncias, não haverá outra alternativa a não ser a exoneração definitiva do ministro
Para o bem da imagem do país, em nome dos verdadeiros interesses nacionais e da proteção à rica e inigualável biodiversidade brasileira, caso se comprovem as denúncias, não haverá outra alternativa a não ser a exoneração definitiva do titular da pasta, assim como de todos os outros auxiliares que já foram retirados provisoriamente de suas posições por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Entre eles, o presidente do Ibama. Ou seja, agentes públicos que deveriam ser protetores da natureza estariam supostamente agindo para facilitar a venda de madeira para o Exterior de modo irregular. Inaceitável, portanto.
O fato é que Salles, por todo o seu histórico à frente da pasta, já deveria ter sido trocado. Mas uma simples troca de nomes à frente dos principais órgãos ambientais do país, entretanto, será insuficiente. É basilar mudar toda a orientação vinda do Palácio do Planalto, partindo de uma reciclagem da ideia negacionista de que há exagero nas críticas ao país.
Essa mudança de postura e de discurso é decisiva também para que os criminosos ambientais, à solta em biomas como a Amazônia, não se sintam mais como detentores de uma espécie de salvo-conduto para agir livremente, desmatando e montando garimpos ilegais, com a certeza de impunidade e da fiscalização frouxa.
Os cuidados com a natureza, sempre é bom ressaltar, não são mais apenas uma preocupação de ecologistas. A sustentabilidade passou a ser, de forma definitiva, um tema do capitalismo. Mundo afora, os consumidores estão cada vez mais atentos à origem dos produtos que adquirem. Investidores internacionais e grandes empresas com negócios no Brasil já alertaram que podem se retirar do país, e redes varejistas europeias ameaçam boicote. Todos os avisos foram dados e a permanência de Salles só vai piorar a percepção estrangeira.
Outro aspecto a ser ressaltado é a dimensão política da operação de ontem, dando resposta à controversa ação de Salles para liberar madeira apreendida pela Polícia Federal, que terminou com o afastamento do delegado Alexandre Saraiva do cargo de superintendente do órgão no Amazonas. Um recado ficou claro: mesmo que o presidente Jair Bolsonaro porventura tente intervir e controlar a PF, a corporação deu uma demonstração de independência e de que as instituições, no Brasil, respiram a plenos pulmões, a despeito de tentativas de vilipendiá-las.