O paternalismo é uma das maiores pragas a corromper a saúde do sistema político nacional. A distorção começa no tom messiânico adotado por muitos candidatos durante as campanhas, ganha contornos mais nítidos com a compra de votos e se consagra, definitivamente, com a adoção de práticas populistas pelas gestões, com altos custos ao erário público e, repetidas vezes, com resultados práticos pífios do ponto de vista da eficiência dos investimentos.
Os políticos nos quais votaremos no próximo final de semana nos representarão, mas jamais nos substituirão
É notório que governos, sejam eles federais, estaduais ou municipais, concentram doses gigantescas de recursos e de poder, tantas vezes empregado para sufocar a liberdade dos indivíduos e das empresas. Não se trata aqui da defesa de um modelo anárquico, e sim da imposição de limites ao papel do Estado, justamente para que ele possa ser eficiente nas áreas em que é necessário.
Para avançar, é preciso corrigir distorções. No Brasil, ainda confundimos representatividade com delegação plena. Uma vez pressionada a tecla "confirma" na urna eletrônica, sucede-se um fenômeno altamente nocivo à saúde democrática. Massivamente, os eleitores entendem que seu dever está cumprido. De fato, não deveria ser assim. Insistir na obrigatoriedade do voto é absolutamente inócuo se ele não for encarado como um compromisso individual de participação constante.
Falta-nos ainda avançar na percepção de que governos nada fazem sozinhos. Nesse contexto, chama atenção como, na cultura brasileira, o primeiro reflexo diante de uma má conduta, tanto no serviço público quanto na iniciativa privada, é automaticamente atribuí-la à falta de fiscalização, como se a ausência dela desobrigasse o indivíduo de cultivar posturas éticas e legalmente ajustadas. Os políticos nos quais votaremos no próximo final de semana nos representarão, mas jamais nos substituirão. Seus erros e desvios têm, em geral, tamanho inversamente proporcional à participação dos cidadãos nas pressões e nos processos que impactam a vida de cada um e de todos.