Por Alfredo Fedrizzi, conselheiro, consultor e jornalista
Há 20 anos, quem andasse pela cidade de Barcelona encontraria a frase: “Barcelona, ponte guapa!” (Barcelona, fique bela!). Isso refletia a vontade de muita gente de deixar a cidade mais bonita. Barcelona, com uma população semelhante à de Porto Alegre, se tornou uma das melhores cidades do mundo.
Para uma cidade ser mais bela é preciso que universidades, poder público, investidores, construtoras, compradores, moradores desejem isso. Mas será que muitos dos que têm condição de decidir por uma cidade melhor estão interessados? Em outros momentos de Porto Alegre, tivemos uma arquitetura que nos colocou no mundo e deixou obras como: Igreja da Conceição, Casa de Cultura, Casa Godoy, Edifício dos Correios, Ceasa, Julinho, Edifício Esplanada, Vila IAPI, Palácio da Justiça, Jockey Clube, Araújo Vianna, Confeitaria Rocco, Cais Mauá entre tantos.
Nossa arquitetura perdeu importância e são poucos os projetos significativos. Atualmente, o que temos foi criado por arquitetos de fora: Fundação Iberê Camargo, do português Álvaro Siza, o Instituto Ling, criado pelo paulista Isay Weinfeld, e a orla do Guaíba, feita pelo curitibano Jaime Lerner. Vemos a cidade cheia de projetos sem personalidade. Então, por que não temos mais uma boa arquitetura? Difícil explicar. Porque temos poucos arquitetos-professores que exercem profissão no mercado? (Em Barcelona, muitos dos melhores arquitetos são professores.) Quem coloca os projetos de pé está interessado só em ganhar dinheiro? Os arquitetos perderam o protagonismo? O gap entre o que se aprende na faculdade e a cidade real é muito grande? Existem preconceitos recíprocos entre quem cria e quem coloca dinheiro? Hoje a maior parte dos arquitetos trabalha para as construtoras e se tornaram mais operadores e desenhistas do que pensadores da cidade? Nossa elite econômica não valoriza o belo?
O arquiteto deve voltar a refletir sobre a cidade. E o poder público a fazer as pontes entre os interessados
Bons projetos valorizam a cidade. Podem revitalizar áreas degradadas. Ou valorizar outras. A Orla é um bom exemplo. A prefeitura resolveu apostar e, com o sucesso, terminou com uma discussão de anos. (Uma orla pública está prevista no Plano Diretor desde 1954.) O que pode nos salvar é o potencial da cidade. Porto Alegre tem relevo bonito, é organizada, tem tradição de urbanismo. O poder público investe na Orla e começa a cuidar do mobiliário urbano, de ruas e praças. E temos um sopro de esperança com novos escritórios fazendo boa arquitetura. Um deles, o Mapa, inclusive saiu na capa da revista Time, como um dos escritórios emergentes no mundo. Existe uma demanda sensível por fazer uma arquitetura que tenha sentido.
O arquiteto deve voltar a refletir sobre a cidade. E o poder público a fazer as pontes entre os interessados. É preciso criar belos espaços que sirvam a todos, mesmo em uma sociedade com tantas desigualdades. Bons e maus exemplos existem pelo mundo todo.