Por José Alberto Wenzel, geólogo/analista ambiental
Há dois milênios um menino revolucionaria o mundo. O simples anúncio de sua chegada bastou para desestabilizar palácios. Em sua caçada, se puseram as forças do poder instalado. O menino não poderia prosperar, deveria ser eliminado, mesmo que isso custasse a vida de inocentes. O massacre a desconstituição não demorou: "Pode alguma coisa boa vir de Nazaré?" Como permitir que alguém insistisse em denunciar injustiças e continuasse a perambular por ai? Mãos destruidoras lavaram-se em público tentando calar consciências e sonhos.
Ao menino seguiram-se Ghandis e Zildas. Quantos pacifistas mais se dedicaram aos anônimos, dominados, difamados, expatriados, aprisionados, desalentados, desatendidos, marginalizados, despetalados? Os sinais apontam agora para uma menina, coincidentemente ao menino da manjedoura, nominada em cinco letras: Greta.
Greta sabe do calor que resseca a argila de que todos somos feitos, não importando a condição social, cultural ou econômica. O solo esturricado se parte em fendas, nas gretas que esfacelam o futuro. Se diferentes os condicionantes existenciais, a emergência climática não dedica privilégios nem seleciona atingidos. Justamente por isso a menina vem sendo desconstituída. Como se atreve uma jovem erguer-se frente aos potentados? Como suportar seu olhar firme e voz sem titubeios? Poderá a ativista ambiental arrastar multidões, pois nada mais "perigoso" que um povo desperto.
É Greta perfeita? Por certo que não. Acertará em todas suas manifestações? Dificilmente. Contudo ela está ai, determinada, profética e instabilizadora. Greta ativa-se pela terra e suas coexistências. Ela está a caminho, de cada um se aproxima, tanto dos que já a entendem quanto dos que ainda a desconstituem. Neste Natal, Greta merece e precisa estar junto a todos nós, não apenas por ela, mas por sua potencialidade modificatória.