Por Márcio Chagas, ex-árbitro e comentarista da RBS TV

Quando vejo mais um caso de racismo acontecendo, como o do jogador Taison neste último final de semana, vítima de racismo no Campeonato Ucraniano, automaticamente eu lembro dos meus pais e da preocupação que os mesmos sempre tiveram em preparar eu os meus irmãos para o enfrentamento do que iríamos encontrar ao longo da vida.
Desde a infância as piadas e brincadeiras racistas foram muito marcantes, como: " não vai fazer coisa de preto; preto quando não caga na entrada caga na saída; só podia ser preto; maldita princesa Isabel, vai tomar banho de clorofila negro sujo, tua mãe deve ser faxineira ou puta, e etc".
Crescer convivendo com essa covardia, me fez ser muito mais do que forte, me fez uma rocha. Hoje minha preocupação é preparar meus filhos, Miguel, que tem 6 anos, e Joana, com 2 anos, pois os mesmos um dia serão contemplados e passarão por isso também. Tento elevar a autoestima dos dois, enaltecendo seus traços e características para nunca perderem sua essência e negritude. Pergunto a vocês, é mimimi, vitimismo e oportunismo denunciar e pedir respeito? Sinceramente não acho justo ter que passar por isso e não desejo a ninguém.
Recentemente a Fifa lançou uma cartilha de combate ao racismo, mas será que os árbitros sabem o que realmente é racismo, e terão respaldo das entidades para fazer cumprir, sem que sejam punidos? Enquanto não tiver interesse real e medidas educativas da CBF, federações e clubes, esse crime continuará a acontecer e passando impune.